A esperança é a última?

daisymai 6“Nada acontece por acaso…” Em parte eu acredito, mas existem situações em que… Bom, vou logo contar para você não sair por aí dizendo que gosto de fazer suspense, o que, aliás, não estaria de todo errado, excetuando, é claro, a situação em pauta.

Um amigo me telefonou com boas notícias e mandei uma msg para Noga, editora do meu livro Saigon. A mensagem falava em esperança… coisas de escritora que tem fé, alguma ingenuidade e muito prazer em escrever.

Mal acabo de postar a mensagem pouso o celular na mesa, e…. Oh! Que coisa é essa, toda verde e magrela que resolveu fazer meu celular de pista de pouso?

Imediatamente dou-lhe um catiripapo (para quem não sabe, catiripapo é sopapo mesmo, e para meus amigos leitores de Moçambique e Angola, que talvez não saibam o significado, eu revelo: catiripapo e sopapo são a mesma coisa que paulada).

Pois dei-lhe a paulada e, na mesma hora, Dona Lina, minha mãe, que por acaso completava ontem 91 primaveras — e verões, invernos e outonos também, porque não é de viver a vida pela metade — deu um grito:

— Não mate o tettigoniidae!

Peraí… uma mãe de 91 anos, que não é bióloga, e que de repente te grita um palavrão desses… é de assustar, concorda? Pois eu não só concordo como parei o gesto da segunda paulada em pleno ar, e o braço ficou lá, levantado, enquanto eu perguntava baixinho para minha provecta mãezinha (como, não sabe o que é provecta? Ah, agora não vou dar colher de chá… quem não souber que corra ao dicionário, ou à Wikipédia)…

Calma aí, você não vai precisar fazer consulta alguma, porque a própria Dona Lina nem esperou a pergunta e aproveitou para exibir seus conhecimentos, oriundos, naturalmente, do tanto de palavras cruzadas que fez ao longo da vida. Enquanto eu fazia aquela expressão meio boba de quem não entende nada nem coisa nenhuma, proclamou do alto dos seus noventinhas:

— Tettigoniidae, inseto da ordem Orthoptera vulgarmente conhecido como “esperança”. Diz a sabedoria popular que encontrar uma tettigoniidae é sinal de sorte, mas que encontrá-la morta é sinal de azar.

Ainda meio abobalhada, perguntei:

— E você acredita nisso?

Ao que ela me respondeu, no seu modo desaforado de sempre:

— Quem encontrou a tettigoniidae foi você, portanto a escolha é sua. Não sou eu quem tem que acreditar ou não…

Puxa, mãezinha, não precisava instalar tal dúvida em meu humilde coração…

Resumo da história: Matar não matei, espantar não espantei, deixei quieta, mas esse negócio de dizer que “A esperança é a última que morre”, aqui, ó! Desde que eu não a mate, ela que se morra. Antes ela do que eu!

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