Amor de Carnaval

daisycarnaval“Ah, foi um amor de Carnaval…”

Acho muito interessante quando as pessoas dizem essa expressão, atribuindo ao sentimento uma circunstância de temporalidade.

A impressão que tenho quando ouço isso é que o Amor é qualquer coisa sazonal, como a febre do trigo, as flores da primavera, o cair das flores no outono, o frio no inverno.

Por outro lado, hoje também se diz… “eu amo essa música”, ou “eu amo esse vestido”… O verbo amar adquiriu a conotação de apreciar, ou seja, uma palavra com significado e peso bem menores do que AMAR.

Meu pensamento inicial foi que talvez a palavra “amor” tenha sido banalizada, só que a expressão “amor de carnaval” é mais antiga do que a banalização, acho.

É. Carnaval é tempo de outras caras, fantasias, disfarces… talvez por isso pensem que não seja a época ideal para se começar nada sério.

“Carnaval é uma festa pagã”, talvez por isso a crença na sua “sazonalidade”.

Para mim, amores acabam, sim. Alguns talvez morram de inanição, por falta de cuidado, outros se esgotam com o tempo, mas há sempre uma razão para seu final, e esta razão nunca é por que começou num dia tal ou qual. Se tem data marcada para começar ou terminar, então nunca foi amor.

O “amor” de Carnaval não morre na quarta-feira de cinzas; talvez já tenha nascido em meio às cinzas, quando não existia a intenção de que fosse “eterno enquanto dure”.

Mas o verdadeiro Amor não tem talvez. E mais… como se vê, amores que começaram em outra época e se desmancham ao longo do tempo, devem ter sido iniciados em bases fantasiosas, idealizações e máscaras. Quantos Pierrôs e quantas Colombinas continuam arruinando a vida de tantos Arlequins, em amores começados em abril, ou maio, outubro, ou sei lá quando?

Digo isso porque vivi um amor que começou num dia de Carnaval. E que teve as fantasias e idealizações que se costuma fazer do ser amado, quando garantimos que é o único ser no mundo que poderia nos fazer feliz, a melhor pessoa, a mais bonita, a mais perfeita — fantasias e idealizações que, ao longo do tempo, se transformaram em reconhecimento do outro, compreensão e aceitação do ser amado como ele realmente é.

Esse amor durou trinta anos para mim, e, para ele, a vida inteira.

 

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