Aux armes, citoyens![1]

daisy14janNão, meu nome não é Charlie, e nem precisaria ser para me horrorizar com as cenas que mostraram pessoas sendo covardemente executadas em seu local de trabalho.

Naquele dia, todos nós trocamos de nome, viramos um universo inteiro de “Charlies”, porque não acredito que algum ser que tenha minimamente alguma noção de solidariedade e que conheça o conceito de liberdade de expressão possa aceitar um horror daqueles. Só outro terrorista seria capaz de entender os terroristas cujas metralhadoras saíram espumando ódio e insanidade, até o próprio Alá deve ter ficado triste por terem usado seu nome para sair matando daquele jeito.

Assim, não nos resta outra alternativa a não ser todos nós sacarmos nossas armas para sair matando os absurdos que se veem por aí.

E que armas são essas? Ora, as armas estão aí, disponíveis, e nem precisamos comprá-las. Não estou falando de fuzis, metralhadoras ou assemelhados, mas das armas que estão em nós: no que fazemos da nossa vida, no que nossas atitudes expressam, não apenas em meras palavras que usamos ao bel-prazer, para falar bonito ou ser politicamente corretos.

Os pais podem usar como arma o exemplo, mostrar aos filhos que radicalismo é arma de incompetentes, daquelas pessoas que não sabem fazer uso da capacidade que mais diferencia o ser humano dos animais: o uso da PALAVRA.

A educação pode e deve ensinar que DEMOCRACIA é o regime que possibilita o acesso, que deveria dar acesso ao saber, à ascensão social e à igualdade de oportunidades. E que um dos princípios básicos da democracia é aceitar que cada um pense como consegue pensar, e que seu pensamento tenha como alvo tanto seu próprio bem como o bem comum.

As religiões deveriam ensinar que existem para aproximar o ser humano de Deus, qualquer que seja o idioma em que a pessoa faça sua prece ou em qualquer veste que use para louvar seu Deus. E não para afastar-nos uns dos outros.

Os governantes deveriam mostrar, com ATITUDES, que a decência e a honestidade também são mandamentos, que deveriam ser seguidos com a mesma precisão com que se segue os mandamentos da lei de Deus. Mas, o que fazem muitos deles? Se o mandamento não facilita suas armações, cinicamente mudam a lei.

Todos nós precisamos mostrar, em cada momento, em cada situação, que as diferenças é que fazem a riqueza da raça humana, é que valorizam a inteligência, e é através delas que se pode aproveitar o que existe de melhor nas culturas diferenciadas.

O problema é que ainda está em vigor, no subtexto das atitudes, aquele velho ditado “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”…

Nem todos usam a irreverência para mostrar as vergonhas da Humanidade, mas temos que aceitar que alguns o façam. Muitas vezes, na sátira e no humor está o poder de conscientizar e de transformar.

Portanto, cada um que encontre sua arma de combate por uma civilização que não nos envergonhe da nossa condição humana.

Mas que o “tiro” saia do seu pensamento, não das suas mãos.

[1] “Às armas, cidadãos!”, “Marselhesa”, hino da França.

 

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