Boi de piranha

sininhoAquela imagem foi um choque para mim… A imagem da inocência. Pareciam crianças de jardim de infância que quando terminam as aulas fogem saltitantes ao primeiro soar da campainha, gritando “Tocou o sinal, tocou o sinal…”

Não consegui perceber naquelas faces jovens um mínimo traço de maldade. E me lembrei de quando eu, mais ou menos na mesma idade, acreditava que poderia salvar a pátria — idealismo louco, utópico, de quem não conseguia salvar nem a própria pele das acnes da vida.

Só que os jovens de quem falo agora não estavam saindo de escola coisa nenhuma. Dois deles nem saíram, porque foram acusados de homicídio. Me fizeram recordar a história do boi de piranha, aquela que quase todos conhecemos e que repito agora só para que ninguém fique fora da nossa conversa.

Quando as boiadas precisavam atravessar um rio cheio de piranhas, os boiadeiros escolhiam um boi e o colocavam na água, mais ou menos no ponto da travessia. Claro está que se o boi conseguisse atravessar, a boiada seguiria. Caso contrário…

Ora, o boi da história não faria falta. Geralmente era o boi mais velho, o mais fraco, o que poderia ir para o sacrifício… Como dizia minha avó: “Para bom entendedor ponto é letra”. …….. Entendeu?

Claro, mas mesmo assim vou dar uma explicadinha. Uma pergunta: será que aqueles meninos quando jogaram o rojão faziam a mínima ideia de que poderiam matar alguém? Ou estavam no embalo da paixão adolescente, que não mede riscos, que quer dizer ao mundo “Presta atenção… nós estamos aqui”.

Esta mulher está delirante, alguém poderia dizer. Mas, peraí. Gustave Le Bon, em seu livro Psicologia das Multidões, disse mais ou menos isso: “A personalidade consciente desaparece e forma a alma coletiva. A coletividade torna-se uma multidão psicológica. Ela forma um único ser e encontra-se submetida à lei mental das multidões”. Ah! O papo é antigo; o livro foi publicado em 1895, e trata simplesmente do comportamento de pessoas. Pessoas — independente de idade, de poder, de partido ou de qualquer outro fator.

Moral da história 1: será que aquele povinho que saiu pululando do jardim de infância, oops, quer dizer, da prisão, tem mesmo tanto preparo, malícia, articulação e frieza para engendrar movimentos do porte que estamos assistindo? Ou será que tem rio de piranha neste reino? Se tiver, quem será o boiadeiro? Interessa saber qual é o seu partido? Ou queremos apenas que deixe de usar jovens idealistas como massa de manobra para os seus  objetivos, que devem ser, no mínimo, escusos?

Moral da história 2: vovó era uma mulher muito sábia.

 

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