Eu tive um sonho…

ESTRELAMas não foi um sonho qualquer. Meu sonho começou num dia 10 de fevereiro. Mas não foi de um ano qualquer.

O ano era 1980. Quando ouvi a notícia, meus olhos encheram-se de lágrimas. Era um mix de emoções: incredulidade de que o sonho fosse adiante, esperança, alegria… A emoção foi maior ainda quando vi que, realmente, o que era um sonho tão longínquo tinha agora uma concretude pungente. Pungente!

Eu lia uma frase, enxugava os olhos, lia outra… O texto era magnífico, convincente, agregador. E claro, límpido, um texto para ser lido e imediatamente compreendido. Não usava palavras difíceis e era exato, exato e na medida certa para os sonhos de todos os que amam o Brasil. Lendo apenas um parágrafo, você há de concordar comigo. Vejamos:

 

“A grande maioria de nossa população trabalhadora, das cidades e dos campos, tem sido sempre relegada à condição de brasileiros de segunda classe. Agora, as vozes do povo começam a se fazer ouvir por meio de suas lutas. As grandes maiorias que constroem a riqueza da Nação querem falar por si próprias. Não esperam mais que a conquista de seus interesses econômicos, sociais e políticos venha das elites dominantes. Organizam-se elas mesmas, para que a situação social e política seja a ferramenta da construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores e dos demais setores explorados pelo capitalismo.”

 

Passam-se os anos e vemos um operário eleger-se Presidente da República. Lembro-me muito bem das discussões para angariar votos, da campanha, dos debates, da emoção ao sair da cabine… e das lágrimas. Novamente, eu chorava de pura ALEGRIA.

Passam-se os anos e começo a perceber que o sonho poderia virar pesadelo, quando vejo alianças espúrias sendo feitas, e meu coração me sussurrava… Mas precisa ir tão longe? Virar amigo de infância do Collor, do Sarney?

Bom, depois, bem depois, fui entender por quê. Veio o mensalão, o Petrogate, os condenados posando de Heróis da Pátria, outros fugindo do país, muitos (talvez não em número, mas em importância) trocando de partido para reencontrar seu sonho.

Sim, foram anos dourados, e disso tudo eu me lembrei, sentada na varanda da minha casa, na noite de domingo. Talvez, se eu estivesse na varanda do Copacabana Palace, tomando um Romanée Conti – 1997, não tivesse sofrido tanto.

Enfim, ironias à parte, até que eu estava firme, segurando bem a onda de ver meu candidato não se eleger, de ver que vai ser muito, muito difícil que os mesmos que estão no poder hoje exterminem essa terrível corrupção que assola nosso país.

Só que eu fui a Cuba a convite do Governo cubano, vi e senti na carne o que é um povo oprimido. E só vi isso porque não me contentei com os acompanhantes oficiais, diplomata e motorista que viraram sombra; eu e outra brasileira que estava no mesmo projeto saímos à noite para conversar com o povo no Malecón.

Lendo a última frase do “Manifesto de Criação do PT” não segurei as lágrimas de tristeza, de horror, de me sentir traída no meu sonho: “O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo.”

Aí, eu me lembrei da história dos médicos cubanos. Foi demais. Desta vez não chorei de alegria.

 

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