O Brasil e a teia

Fonte da ilustração: Millôr online.

Fonte da ilustração: Millôr online.

Quando digo teia, poderia estar me referindo à teia daquele bichinho nojento que, minha avó dizia, não se deve matar porque “chama pobreza”.

Mas não. Quero mesmo me referir é à Teia de Penélope, aquela mesma… que ficou tecendo e tecendo e tecendo, esperando um Godot que, por ser grego, chamava-se Odisseu.

E por que me vem à testa essa história?

Ah, meus amigos, para mim a história de Penélope tem muito mais a ver com o Brasil do que com a própria Grécia.

Senão vejamos: aqui na nossa terrinha qualquer chefete de qualquer setorzinho fajuto de qualquer empresa pública mal toma “posse” sai desmoralizando tudo o que foi realizado por seu antecessor. Tudo o que o outro fez passa a ser objeto de absoluto desprezo e, claro está, é fechado numa gaveta para ser comido por traças. Seja um projeto, seja uma ideia, fica lá no arquivo morto. E haja dinheiro para recomeçar. Sempre recomeçando, pouquíssimas vezes finalizando.

Estamos vendo isso agora mesmo. A presidente encarrega um aliado de fazer o meio campo político (meio campo mesmo, porque mais parece uma pelada de quintal lamacento do que negociação política). Aí, vem o presidente da Câmara e sugere ao “negociador” que desista da função, porque, como foi comentado pela imprensa (Elio Gaspari, O Globo, 5/08), o coordenador político costura alianças de dia e o PT as descostura de noite.

Enquanto isso, virou bordão os acusados falarem em “vazamento seletivo” do processo. Ora, por favor… Essas informações deveriam ser anunciadas com todo vigor, com todo o barulho possível, para que em qualquer cantinho, do Oiapoque ao Chuí, todo mundo soubesse da sujeira que tem que ser lavada.

Pior: comparam Joaquim Silvério dos Reis aos delatores da Delação Premiada. Se eu, dando o benefício da dúvida, acreditasse que quem diz isso acredita em suas próprias palavras, recomendaria que voltassem à escola para estudar de novo a História do Brasil. Mas isso parece mais fala de quem não sabe o que dizer, de quem esgotou todos os argumentos para justificar a mentirada que foi promovida com o único objetivo de se reeleger e grudar na cadeira da Presidência.

O filósofo francês Joseph Marie Maistre, ao qual não rendo homenagens porque foi um ferrenho defensor dos Luíses e da monarquia que dava ao povo “brioches”, cunhou uma frase que me impressiona muito: “Cada povo tem o governo que merece”.

Ah, seu filósofo, me inclui fora dessa. Eu e MUITOS brasileiros, que trabalhamos muito a vida inteira, com dedicação e honestidade, não merecemos um azar desses.

Então, Dona Justiça, rufe os tambores, anuncie nas praças, nas rádios, nos jornais, na TV, na Internet, em qualquer muro de toda cidade brasileira os nomes dessa gente corrupta para que possamos nunca mais votar nessas pessoas.

E mais: gostei quando li em algum lugar: “Mudem o nome, de delação premiada para contribuição processual”.

Delação é trair. Informar onde está o erro, o “malfeito”, o roubo, é obrigação de qualquer cidadão responsável. Claro que os “delatores” não são esses anjinhos que querem parecer, mas provando o que dizem estão qualificando o seu depoimento.

Enfim… Nada de novo no horizonte, enquanto a democracia vai sendo sufocada pelas teias. Só nos resta aguardar, porque enquanto a roupa não fica pronta não dá para a gente gritar “Olha, o rei está nu!”

Mas que tem muito rei nu por aí, tem mesmo, e eles que segurem “suas partes”, porque o jato da Lava-Jato deve doer muito nelas.

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