Sonhos? 

sonhosE dizer que até acordada eu já sonhei… Até que, um desses que eu pensava ser sonho transformou-se num pesadelo, um pesado pesadelo: disforme, como sabem ser as coisas de horror; pesado, por sugestão da própria palavra; longo, e interminável, como é, mesmo que não seja, qualquer coisa que interrompa um sonho.

De um pesadelo, hoje sei bem, não se acorda nunca; há sempre um desperta dor insistindo em te lembrar que o pesadelo não acabou. Mas, como nesse turno não se deve perder tempo, porque no outro o trabalho é imenso demais, sigo eu provocando situações de lazer, ou de laser, não sei bem. É isso: caço com laser momentos perdidos, mas… droga! O raio do raio não é bom para procurar; talvez um galho de goiabeira facilite a minha busca (quem ainda não viu a busca de poços artesianos usando um galho de goiabeira como guia perdeu um espetáculo).

Bobagem; não existem mais goiabeiras na cidade. Quem sabe encontro Sherlock numa curva de caminho e ele descobre onde existe um galho sobrevivente… Ah, engano: o último Sherlock foi um cãozinho poodle que dei quando me mudei para um apartamento, e hoje o bichinho mora numa bela casa, num subúrbio qualquer, cujo nome nem lembro agora.

Brincar com crianças e com palavras, isto o que gosto de fazer nesses tempos. Com bichos até brincaria, não fosse essa alergia a pelos (o único que não me faz o nariz escorrer é o Pelo Sinal, sabe? O da oração, mesmo). Isto posto, me resta brincar, num completo e absoluto descaso e descompromisso com isso aí que vocês estão chamando de vida.

Gente, o Brasil precisa rever seus dicionários, aliás, acho, a própria raça humana precisa revê-los. VIDA não é isso que está aí, não, isto é pré-morte… Guerra pra tudo quanto é lado, carros no trânsito matando nas ruas tanto quanto tanques em guerras, homens e mulheres se explodindo em nome de um Deus que não deve ter a menor ideia do que estão fazendo em seu nome. Corrupção grassando do Oiapoque ao Chuí, passando por Panamá papers e aportando no Brasil, que tenta lavar a sujeira toda com lava-jato, embora saibamos que isso é pouco. Há que se mudar a CONSCIÊNCIA.

E aí, meus amigos, não dá mais pra sonhar. O jogo é pra ser jogado a sério. Entretanto, um cuidado há que se ter: não nos deixarmos contaminar pelos artifícios que usam aqueles que censuramos. Façamos o jogo limpo, sem deixar que o cinismo tome conta total do pedaço.

Assim, meus dias transcorrem com sonhos nenhuns (nenhum é pouco), planos alguns… para os próximos minutos, não mais para os próximos anos, numa economia falecida como a brasileira, mantendo a decisão de continuar firme com minha descrença, cuidando das minhas plantas e flores, pintando o meu sete, me indignando com falsas palavras, falsos sentimentos. E mantendo a sábia decisão de não mais aceitar absurdos, diante dos quais não  me calarei, cláusula pétrea do meu já assinado descompromisso com a vida, que é tão grande que até consigo rir e cantar e dançar, mesmo diante disso tudo, sempre que me dá na veneta.

Na falta de ter com que me alegrar, brinco com as palavras, santas palavras que me acolhem, me entendem, me brincam… às quais dou reciprocidade total, absoluta, inteira e plena. Compreendem-me, me acompanham, não me faltam nem me falham, aceitam meus dengos e meus rompantes, me aliviam, me acarinham. Nelas está o que me parece, hoje, ser minha segunda melhor alegria: como nos entendemos, eu e elas. E olha que, às vezes, tenho consciência de que abuso, mas elas, num sense of humour completo e tranquilo, voltam, sorriso grande e olhos brilhando, para a nossa farra.

É… Sonhos, só os de padaria.

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