Vamos circular?

Um tempo atrás, assistindo ao noticiário da TV, soube que o desmatamento da Amazônia somente no mês de junho dobrou em relação ao mesmo período de 2015. Fico a me perguntar como é possível, em pleno terceiro milênio, tempo de tanta informação, fatos como este continuarem a acontecer.

“Economia circular: repensando o progresso”

“Economia circular: repensando o progresso”

Dizer que o Brasil é o segundo país em cobertura vegetal, ficando depois da Rússia… Bom, nessas alturas já nem sei se devemos dizer é ou era.

Será que, em sua ganância, os “desmatadores” não se lembram de que a as árvores têm papel decisivo no aumento da qualidade de vida, já que florestas promovem a manutenção da qualidade do solo, permitem maior disponibilidade de água, regulam o ar? Que árvores armazenam gases do efeito-estufa, retirando-os da atmosfera e guardando-os em seus troncos, o que auxilia na regulação das mudanças climáticas?

Não é possível que não saibam disso. Refletindo mais um pouco sobre o assunto, lembro-me de como funciona a nossa economia: fabricar, usar e descartar. Máquinas, utensílios domésticos, para tudo agora tem um modelito atualizado que despreza os modelos anteriores. O celular? Tem que ser o “da hora”… Já vi pessoas dizerem: “Meu celular tá velho… já saiu o 7, ou o 8”, sei lá que raio de modelo é o atual! E às vezes um simples conserto fica quase o mesmo preço de um novo…

Essa é a atual “lei de mercado”: o anterior é sempre “velho”, e como na nossa cultura o velho é feio, inútil e desacreditado, o produto fica feio, inútil e desacreditado. Seu destino óbvio: o lixo.

Muito bem, aí chegamos ao lixo. O mundo civilizado, consciente e responsável já recicla seu lixo. Vemos poucos exemplos disso no Brasil, e, mesmo assim, o que se vê é a sub-reciclagem, ou downcycle, um processo inconsistente porque improvisado, no qual os produtos geralmente não são projetados com previsão de reaproveitamento.

Nesse ponto da minha pesquisa, topei com os princípios da economia circular, um sistema industrial que já incorpora desde o design do produto a sua regeneração, prevendo que as matérias primas utilizadas mantenham ou aumentem o seu valor.

A economia circular mantém os recursos em uso o máximo de tempo possível, através da recuperação e regeneração das matérias primas em reutilização, ou seja, o produto não morre de vez: morre aos poucos, maximiza o seu tempo de vida. Uma morte lenta, mas proveitosa.

Muito bonito isso, pensei. Só que ainda vamos demorar muito a ver acontecer por aqui. O modelo de economia circular demanda grandes mudanças… Mudanças que vão do processo produtivo — design e criação do produto incorporando o conceito de regeneração de matérias primas — ao comportamento do consumidor.

Aí é que a coisa pega… Mudanças no processo produtivo? Isso é possível, mas mudança no comportamento consumista é a grande incógnita, porque estimulada pela propaganda, e por todo mundo neste mundo. Até nos países asiáticos a cultura do novo é que vale, nem sei se ainda respeitam a sabedoria dos mais velhos, como era ponto de honra nas culturas orientais…

É… Esperemos sem muita esperança, porque do jeito que vamos, caminhamos em linha reta para o mesmo lugar: desperdício, mau uso, consumismo.

Quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto, recomendo que busque no site da Fundação Ellen MacArthur a animação “Economia circular: repensando o progresso”.

Afinal, não dizem por aí que “ A esperança é a última que morre?”

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