A família olímpica

camisinha1Conhecer o dia a dia de uma Vila Olímpica deve ser bem interessante: um relacionamento entre iguais, atitude cordial, experiência enriquecedora e coisa e tal…  Você pode até achar inadequada a minha ingenuidade. Afinal, já passei do momento ingênuo, embora esteja agora vivendo intensamente todos os momentos olímpicos. Só que, voltando à ingenuidade, estava eu imaginando como deve ser incrível a convivência entre culturas tão diferentes, em situação tão inusitada como uma Olimpíada — rivais habitando o prédio ao lado, se esbarrando pelo caminho, sabendo que nos dias seguintes acabarão se encarando com olhar de fera, precisando se impor diante do outro, e aí, é claro, a intimidação rola mesmo, atletas iniciantes encontrando seus ídolos no corredor… Dona Ingenuidade até me soprou ao ouvido que, eventualmente, atletas rivais repartem mesas no refeitório ou restaurantes da Vila.

E a preparação física e mental dos candidatos a campeões, como é que fica na Vila?

Afinal, paguei para ver — não in loco, porque o acesso às instalações da Vila é mais proibido do que entrada de criança em filmes como aquele dos “Cinquenta Tons”, você sabe de que cor. Lá não fui, mas fui para a internet, que desmoralizou a história de que você precisa ir aos lugares para saber como são. Enfim… Tenho que confessar que minha cara caiu no chão.

O informativo do Terra cita matéria da Superinteressante, dizendo que o aquecimento de atletas em vilas olímpicas é o exercício mais antigo que se conhece:  sexo. A matéria diz que é tradição nas vilas olímpicas o clima de absoluta paquera e de livre pegação entre atletas durante os jogos. A matéria segue revelando que, principalmente ao fim das Olimpíadas — quando a maioria dos presentes já fez sua parte como atleta — a vila se transforma em uma festa sem fim. Para justificar, citam que em Sidney, no ano 2000, 70 mil camisinhas se esgotaram, e tiveram que encomendar mais 20 mil.

Ah, agora entendi por que o Comitê Olímpico distribuirá, segundo consta, 450 mil camisinhas durante os jogos. É, para atletas, tudo o que se refere ao seu corpo é artigo de primeira necessidade.

E, como em toda família, existem os xodós; as delegações cujos crachás exibem garfo e faca cruzados têm direito a um refeitório diferenciado. Hum… Entendi. O lado bom é que não vai haver desperdício, caso prefiram os sandubas e sorvetes: os alimentos que sobrarem serão distribuídos entre os moradores de rua… Santa Olimpíada!

Bom, satisfeita a minha curiosidade, dona Ingenuidade foi pro brejo, e voltei a pensar na relação entre olimpíada e família, e foi para o time do Bernardinho que voltei minha atenção.

Confesso que me incomodava (muito) o jeito autoritário (quase grosseiro) com que Bernardinho, técnico da seleção de vôlei masculino, tratava seus pupilos. Só que, no jogo da semana passada contra a França, fiquei intrigada com sua serenidade, e eu diria que ele parecia quase humilde. O time parecia não dar bola (sem trocadilho, por favor) para suas ordens, e fiquei bem confusa. Ao final do jogo, com uma suada vitória, Bernardinho se revelou numa entrevista. Suas palavras foram mais ou menos assim: “Temos que perceber que as gerações mudam, e se dermos ordens, eles viram pra gente e dizem ‘Eu é que sou bom nisso, e sei o que faço’”. UAU! Que mudança.

E fiquei eu de cá, pensando em como seria bom se todos os pais e mães conseguissem “liberar” seus filhos para a própria vida, sem terem a pretensão de funcionar como coaches da vida alheia. Agora, vou lhes dizer: ô coisa difícil encarar nossas “criaturas” e entregar-lhes a chave do próprio destino.

Difícil, mas absolutamente necessário. E como é bom quando se consegue.

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