A mulher da Rua Bonaparte

bonaparteEla não está nos panfletos de turismo, e nunca ouvi ninguém recomendar “vai ver a mulher da Rua Bonaparte”…

Durante o tempo em que a estive observando, não vi nenhum passante lhe conceder um olhar mais demorado, ou um sorriso de admiração. Por um instante, até pensei estar em outra cidade, que não Paris, a Paris dos passeantes que ficam flanando pelas ruas,  ou dos que se sentam a uma mesa para olhar com prazer a Vida que passa à sua frente. Ninguém deu a menor pelota para a escultura que achei tão bela e significativa, cheia de tantas mensagens, comovente figura de mulher.

A inversão completa estava acontecendo ali. As pessoas não olhavam, mas a estátua olhava cada um de nós que passava, tive mesmo a impressão de que em determinado momento ela virou a cabeça e me mandou um sorriso.

Sorriso que não aconteceu, mas que eu bem desejei. Desejei que ela se humanizasse, para que eu pudesse lhe dizer que o seu chapéu era lindo, que sua pose era fantástica, fazer um elogio que a tirasse daquela imobilidade.

E fiquei me perguntando por que não fazemos isso com as pessoas. Por que escondemos (ou pelo menos grande parte das pessoas esconde) nossos sentimentos, economizamos palavras de elogio, as que poderiam fortalecer, que poderiam criar laços, fazer alguém mais feliz. Não, eu não estou sugerindo que mentimos, estou apenas afirmando que palavras de amor, de amizade e as que podem tirar alguém da imobilidade de suas vidas devem ser gastas até o ponto final, mas é tão comum as pessoas, neste aspecto, não passarem da página 2…

Ah, Paris! Você sabe que sou uma daquelas pessoas que adoram ficar olhando o ritmo da Vida acontecer, tomando um bom café ou uma tacinha de vinho, mas, sem divagar muito, observo que as palavras ácidas e rudes são mais comuns, parece que é mais fácil dizê-las…

Pois eu vi o sorriso que não existiu, vindo da mulher da rua Bonaparte, porque este sorriso, concluí, não estava nela. Estava em mim, só que o próprio sorriso não se consegue ver, os olhos não alcançam, é muito mais possível ver o sorriso do outro.

E eu não podia ficar ali, parada…  a Vida, mesmo sendo tão generosa, não perdoa a imobilidade, a Vida acontece a cada passo do nosso caminho.

Segui adiante, mas vou lembrar para sempre a mulher da rua Bonaparte. Vou lembrar que eu mesma passei antes por aquele lugar e, ou ela não estava lá, ou eu não tive sensibilidade para enxergá-la. Vou lembrar como lutei, trabalhei, para um dia poder ir a Paris e ver com calma a beleza que está ao meu redor, embora não esteja nos panfletos de turismo. E vou me brindar com o sorriso para dentro, que nasce no interior dos que gostam da Vida. E este sorriso vai acontecer em Paris ou no meu bairro, em Paris ou na minha cidade, em Paris ou nesta sala simples em que escrevo para vocês.

 

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