Água na Boca

Essa expressão sempre teve para mim um significado que remete a algo muito bom, geralmente de conteúdo gastronômico… Tipo aquela comida que nos agrada tanto que à sua simples menção nos enche a boca de água.

Até que escutei uma professora, melhor dizendo uma Mestra (com letra maiúscula mesmo, porque além de professora dá aos seus alunos grandes testemunhos de sabedoria e de fé). Pois, como eu ia dizendo, a professora Maria um dia disse assim, comentando momentos em que devemos nos calar “É melhor encher a boca de água”.

Fiquei pensando em como é difícil fazer isto, e na sequência, quanta sabedoria existe nessa atitude.

Falar ou protestar para mostrar que temos razão, muitas vezes apenas acirra discórdias, aumenta o “embrulho” e a discussão fica insustentável.

Mas se conseguir dominar sua emoção e silenciar, aí está a verdadeira sabedoria, aí está o verdadeiro exercício da inteligência emocional, da qual se tem falado de uns tempos para cá. É, ser inteligente apenas não basta nesse mundo que vivemos hoje. Precisamos colocar com precisão nossa inteligência, para exercer nossa humanidade plenamente. Mas, que coisa difícil calar quando estamos revoltados, irritados, nos achando incompreendidos. Muito difícil perceber em que momento as palavras serão construtivas, em que momento elas irão somente destruir.

Refletindo bem o assunto, concluo que em alguns momentos o silêncio é quase uma covardia, e aí eu me refiro às situações em que presenciamos injustiças, em que vemos alguma pessoa ser maltratada, especialmente se ela não tem como defender-se. Nestes casos, o silêncio é ausência.

Mas o silêncio também pode estar associado a uma apreciação estética, contemplativa, e até a uma experiência transcendental. Não foram poucos os filósofos que se afastaram de tudo e de todos para, no silêncio, chegarem ao autoconhecimento.

Especialmente em nossos dias, quando todos tem a possibilidade de se expressar em tantos tipos de mídia, parece que as pessoas se sentem na obrigação de exprimir uma opinião qualquer, mesmo que não dominem o assunto, mesmo que levemente percebam que suas palavras possam ter poder destrutivo.

A sociedade contemporânea valoriza o som, mesmo que esse não traga nada além de “barulho”, em detrimento do silêncio que pode ser enriquecedor.

No silêncio podemos pensar, e poucos querem o verdadeiro “pensar”. É mais fácil sair vivendo, dias emendando noites, sem muita reflexão, ocupando todo o tempo com notícias, comunicações, informações, num crescendo tal que já não se consegue separar a informação boa, a que vai agregar valor e experiência, daquela que só vai entupir nossos ouvidos e nossas mentes com conteúdos grosseiros e irrelevantes.

Sim, quem consegue silenciar paga um preço, porque no silêncio pode estar o maior barulho do mundo, o barulho que seus pensamentos sabem fazer quando você sai de sua zona de conforto e passa a buscar novos caminhos. Mesmo que traga algum sofrimento, no silêncio pode estar a descoberta dos caminhos da verdadeira libertação – de falsos conceitos, de falsas atitudes.

Não faço a apologia do silêncio, mas aceito as palavras da sábia professora: “Quando você não tem certeza de que suas palavras vão mudar alguma coisa ou alguém para melhor, encha a boca d’água, e espere”.

Com a boca cheia d’água não vai poder falar e se não falar, poderá refletir, certamente poderá, e quando emitir algum som, será de palavras sábias, e não apenas inteligentes. A inteligência hoje tem conceito diferente do passado, muito diferente. Pessoas inteligentes, hoje, sabem aproveitar sua capacidade para comunicar, e não apenas repetir palavras vazias que não costumam levar a lugar mais longe do que seu próprio umbigo.

Repito: no silêncio pode estar o maior ruído do mundo.

Portanto, “ÁGUA NA BOCA”, cautela, silêncio. Isto é o que faz quem sabe viver sua vida e exercer sua inteligência.

3 Comments

  • Adriana Medeiros disse:

    Amei! Tentarei encher minha boca d’agua mais vezes! 👍👍👍👍

  • Regina Lucia Amaral do Nascimento disse:

    Muito bom !!! Temos que ouvir mais e falar menos…

  • Daisy disse:

    Sandra Loureiro:
    >> Daisy, gostei muito desta crônica! Como é dito:”o silêncio constrói. ..é de ouro!”. Encher a boca de água muitas vezes nos faz refletir se vale a pena tanto barulho por tão pouco! Saudades. Beijos.

    Márcia Moreira:
    >> Sábias palavras, sábia reflexão.

    Ruth Saldanha:
    >> Muito bom!!!!

    Jéssica Banai:
    >> Amei 👏🏻🤓

    Vânia Lúcia:
    >> Ultimamente estou quase sempre com água na boca.
    Prefiro o silêncio e a reflexão.
    Bj.

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