Ah, essas repúblicas…

Confesso que não entendo como algumas pessoas defendem governos de exceção.

Este mês, por exemplo, entrou em vigor na República Popular da China a tal de Lei de Segurança na Internet. Bom, a lei foi votada em novembro de 2016 pelo parlamento chinês, sendo previsto que entraria em vigor em 1º de junho de 2017.

Primeiro, a pergunta: “Segurança para quem, senhores”?

A ONU se manifestou, e também associações de Direitos Humanos, mas a coisa funcionou mesmo, e o governo chinês saiu bloqueando sites, apagando informações, pintando e bordando com a imprensa cor-de-rosa — especialmente com esse setor do jornalismo, e aí cabe um esclarecimento. Para quem não sabe, imprensa cor-de-rosa é aquele segmento que trata de fofocas, da vida de celebridades, e também realça a história de cidadãos comuns que por alguma razão, tem algo interessante a contar. Até aí, poder-se-ia dizer (hahaha, dei uma de Temer agora) que… tudo bem, ninguém precisa mesmo de saber fofoca da vida dos outros.

Ah, cara pálida, e a liberdade, onde é que fica? E mais: as ditas “fofocas” estão no capítulo Comportamento Humano, e aí é que a coisa pega.

Vocês acham que um governo normal se incomodaria que as pessoas soubessem se aquele gato chamado Brad está divorciado da Angelina ou não, ou se a Beyoncé vai gastar quase dois milhões de euros para transformar sua casa em maternidade de tecnologia de ponta só pra ter privacidade no parto dos seus gêmeos?

Eu acho que não, definitivamente, não. Agora, e quanto às manifestações de protesto e sinais de novos tempos, de novas atitudes que as pessoas estão adotando neste Terceiro Milênio?

As autoridades chinesas afirmam que a lei protege os usuários, proibindo, inclusive, que dados de usuários sejam vendidos, para o que prevê sérias multas.

“A lei foi feita para salvaguardar a soberania do ciberespaço da China, a segurança nacional, os interesses do público, assim como os direitos e interesses dos cidadãos, entidades legais e outras organizações”; “no mundo real, todas as empresas ou individuais devem respeitar a legislação do país onde operam e o ciberespaço não deve ser uma exceção”, diz a nota das autoridades chinesas.

É… a gente pensa que essa coisa de soterrar gente era coisa do passado, mas antes, pelo menos, eram bonecos de argila. Agora é gente de verdade, que fica “enterrada” nas dobras de fofocas da internet ( ô desculpinha mais fuleira).

Uma das cláusulas diz que os “operadores de infraestruturas de informação chave” devem armazenar os seus dados na própria China, o que é considerado uma barreira ao fluxo de dados na rede, e deve prejudicar seriamente o desempenho das empresas. As empresas estão chiando, mas… fazer o quê? Quem vai abrir mão de um mercado de bilhões de pessoas?

É. Enquanto as coisas por aqui estão como se sabe, quer dizer, como a gente pensa que sabe, o negócio é fechar os olhinhos e protestar contra o que acontece na China. Lá pelo menos, o governo assina embaixo do que quer. Aqui… ih, aqui sabe-se lá o que está acontecendo nos bastidores dos podres poderes republicanos.

Ah, essas repúblicas…

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