Atitude

daisy242Muitos anos atrás, tantos que nem vale a pena contar em números, mas sim em experiências, tive um instrutor de yoga que um dia disse aos seus alunos:

— Caminhem como se fossem conquistar o mundo, nunca de cabeça baixa, sempre com os ombros erguidos e olhar de vencedores. Mas guardem a humildade dos que sabem vencer.

Lembro-me sempre das palavras de Hisashi quando vejo Mick Jagger no palco. Que andar atrevido tem o sujeito… Se Hisashi o visse, certamente viraria para seus pupilos e diria: “Este é o modo bom de andar, né?”

Não sou chegada a fanzices. Nada sei da vida do cantor, sei apenas dos fatos mais ou menos recentes, que ele reconheceu um filho brasileiro. Mas sei que tem andar de vencedor. E sei que me fez lembrar as palavras do Hisashi.

Às vezes, algumas palavras ditas ao acaso nos marcam de maneira inesquecível, são lições de sabedoria. No meu entender, associar o andar de vencedor à capacidade de receber a vitória com humildade foi brilhante: muito mais do que apenas uma forma de andar, isso indica uma atitude, porque vejo muito constantemente a conquista ou a vitória serem associadas à agressividade, nunca à humildade. Ao contrário, percebo até ser comum interpretarem uma atitude humilde como fraqueza, coisa assim.

E aí é que se faz a confusão. A humildade não tem de ser humilde no sentido que costumamos usar a palavra. No Aurélio, entretanto, em meio a outros sentidos, como “sentimento de inferioridade, submissão, pobreza, penúria”, também encontramos “demonstração de respeito, capacidade de reconhecer a própria limitação”. É isso aí, saber que se vence naquele embate, mas admitindo que se tem sua limitação: vencer sem onipotência. Vencer com humildade penso que seja reconhecendo o próprio limite, admitindo que se o outro não saiu vencedor naquela, poderá fazê-lo em outra ocasião, o que é uma grande demonstração de respeito ao adversário. Enfim.

Mas, até que ponto um andar é atrevido, ousado, e até que ponto é arrogante? Para mim, no caso do cantor de rock, é necessário ser as duas coisas, já viram aqueles cantores que cantam — não necessariamente um rock, que já é coisa do passado, mas qualquer música mais sacudida — e ficam estáticos, ou quase isso, escondidos atrás de uma guitarra. A música convidando a chacoalhar e o cidadão cantando como se fosse um baile do século passado? Eu já vi, e tive vontade de pedir meu dinheiro de volta.

Aliás, entre os brasileiros, só mesmo Rita Lee me remete à emoção (antiga) do rock. Ela chega no palco com todo o gás. Só ela me remete à mesma vibe de um Jagger.

E aí, meus amigos, ouvindo o cantor que não se excita diante do próprio som eu tenho que dizer: I can’t get no, satisfaction, hey, hey, that’s what I say.

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