Cinderela e o Essencial

Ah, tempozinho danado de ruim com o tal distanciamento físico… um dia desses me peguei a pensar sobre como estarão vivendo aquelas pessoas que só compram, compram e compram, as que compram roupas de marca, e toneladas de itens supérfluos… devem estar passando um sufoco, pensei eu. O tema me interessou porque tinha na minha cabeça a ideia de que o consumismo teria saído de pauta.

Inicialmente pensei: compravam, não compram mais.

Só que comecei a conversar com as pessoas sobre o assunto, e joguei conversa fora com todo tipo de perfil: gente moça, gente para quem a juventude é apenas uma lembrança, pessoas magras, gordas, ricas, menos ricas e naturalmente, os não abonados.

Claro que ficou fácil perceber que, quem antes suava para comprar um sapato melhorzinho, até que a Pandemia foi uma boa: não compravam mesmo, então pouca diferença faz estar em casa ou indo trabalhar, ou ir para baladas, ou encontrar amigos no bar.

E os consumistas?

Gente! Moços ou velhos, ricos ou pobres, magros ou gordos, continuaram com seus velhos hábitos de consumo, acreditam?

Na minha pequena amostragem (22 pessoas), a metade revelou que continua comprando, o ecommerce está aí e, como me disse “V”: _Agora é até mais fácil, nem preciso sair de casa para comprar.

Só que as pessoas mudaram o foco; quem comprava roupa hoje compra mais artigos de maquiagem, ou ferramentas (ferramentas? Sim, ferramentas!), ou roupa de cama, ou enfeites para casa.

Faz sentido: já que estamos muito mais em casa, tornar o ambiente mais bonito e acolhedor faz mesmo sentido.

Engraçado foi notar que – homens ou mulheres – perceberam que uma chave de fendas ou um alicate é item absolutamente indispensável numa casa. Rsrsrs…

Antes chamavam um profissional e lá vinha ele com seu arsenal de ferramentas que muitas vezes nem se sabia o nome, mas o medo do contágio e a Internet resolveram muitos probleminhas que antes um simples telefonema ou zap resolvia.

Os sites de compra estão faturando a mil por hora. Sites que antes só vendiam brinquedos, ou eletrônicos e aparelhos elétricos hoje vendem até beterraba…

Gente que desconfiava de tudo que começasse em www, perdeu o medo e se aventurou nas compras. E vários segmentos se expandiram de modo impensável – bebidas, por exemplo.

Nisso tudo, o comércio de artigos de luxo não perdeu, nunca perde. Os abonados sempre encontram um jeito de comprar o produto que querem, pagando o preço que for.

Os mais jovens – lembrem que eu só conversei com pessoas confessadamente consumistas – continuam comprando e a angústia de usar o artigo novo talvez seja alavanca para que participem de aglomerações.

Só tenho a lhes dizer que foram duas semanas bem divertidas. Ouvi coisas SUPER, que talvez use mais tarde, em novas crônicas, mas uma afirmativa de “M” eu lhes conto agora. Ela me disse que continuou com sua velha mania de comprar sapatos.

Eu lhe informei que na maior parte das minhas conversas o item sapato foi substituído, talvez porque as pessoas não teriam como usar, como exibir. Sua resposta foi uma reflexão digna de Platão.

Ela disse: _Essas pessoas não sabem a diferença que um sapato pode fazer na vida delas.

Eu respondi: _Como assim?

Ela prontamente devolveu: _Pergunte para a Cinderela.

# Alôôôô!!!!!!!!! a melhor ferramenta para combate da Covid é a máscara e, infelizmente, a distância.

1 Comment

  • Elizabeth Hinden disse:

    Fantástico! Como a cabeça de um indivíduo pode ser criativa! Criamos necessidades (e respostas) para tudo! Mas sabe que depois de refletir pensei: será que essa compulsão consumista não seria uma resposta ào isolamento social? Outro dia vi uma propaganda de shopping on-line, mas no fundo muito triste. Uma moça que no isolamento em que vivia, sem conexão real com amigos, todos muito “ocupados” (mas igualmente isolados), via nas compras on-line uma forma de “ganhar presentes”… Adorava abrir os pacotes! Não sei onde vamos parar… E viva a Cinderela, rsrs

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