Conversando com Daisy Lucas – Carlos Eduardo Fraga

Entrevistado: Carlos Eduardo Fraga

1- Por que KAZÊ? E qual seu verdadeiro nome?

Meu nome é Carlos Eduardo, porém, quando meus amigos me chamavam quando pequeno, falando o meu nome rápido, ficava Caseduardo, então, decidiram para ficar mais fácil, me chamar só de Case. Numa época da minha vida, passei a fazer camisa para vender. Para facilitar a marca, passei a usar Kazê, podendo também ser KZ.

Daisy – Sabe de uma coisa? Você já é uma marca em si mesmo…rs

2- Pode compartilhar conosco os dois momentos mais importantes da sua vida até agora?

Quando a associação de pintores me ligou dizendo que fui aceito, foi muito importante para mim e, o nascimento dos meus sobrinhos.

Daisy – Aliás, você é um ídolo para seus sobrinhos, eu pude ver isto, eles fazem depoimentos emocionantes no seu livro. Bom, é ídolo para os sobrinhos e para muita gente mais.

3- O que você faz na vida?

Sou Artista Plástico, pintando quadros com a boca. Faço parte da Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP).

4- Como e por que iniciou esta essa atividade?

Eu era representante comercial, representando em todo o Rio de Janeiro fábricas de sapato, bolsas e cintos de vários estados do Brasil. Um amigo, que conheci através do meu cunhado, também cadeirante e tetraplégico, me convidou para entrar para a APBP. Eu respondi na hora, “Nunca pintei nem casinha com as mãos, como vou pintar com a boca?” Ele falou que na Associação de Pintores existiam muitos artistas que também não pintavam muito bem, nunca haviam pintado antes, porém entrando para associação, passaria a receber uma bolsa mensal, exatamente, para fazer cursos, comprar material de pintura e evoluir como artista. Meu amigo levou seu material em minha casa, com suas dicas fui pintando um pôr do sol, por gostar muito de paisagem. Claro que não ficou nenhuma grande obra de arte, porém muito melhor do que eu imaginava, e fiquei muito feliz.

Mais tarde, mostrei meu lindo pôr do sol para o meu irmão mais velho, que disse “Esse ovo frito está muito legal”. Fiquei seis meses sem pintar. Um dia encontrei uma amiga de infância, que pinta muito, sempre desenhava na escola, pega uma foto nossa, pinta e fica melhor que a foto. Conversando com ela sobre a Associação, se ofereceu para me ensinar a pintar. Com suas dicas pintei seis quadros, como exige a APBP e enviei para a Suíça. Um ano depois me ligaram dizendo que fui aceito. Foi um momento muito feliz!

Daisy: Imagino sua decepção no início e o entusiasmo depois, só esse trecho da sua história mostra como você é um guerreiro. Maravilha.

5- Eu sei que você luta para acabar com vários preconceitos com relação à tetraplegia e à deficiência física de modo geral que. Pode falar um pouco sobre isto?

Pois é, Daisy. Até hoje existe aquela visão, para a maioria das pessoas, que o deficiente é incapaz de realizar qualquer função, de que é um coitadinho. Somos capazes de realizar qualquer função, precisamos apenas de pessoas que nos deem oportunidade de usarmos plenamente a nossa capacidade.

Daisy: Mas pelo visto você nunca se vitimizou, seu livro relata momentos de tristeza, de indecisão, mas sempre superados.

6- Além disso, existe alguma outra atividade à qual você gostaria de se dedicar?

Pretendo me dedicar mais como palestrante, fazer faculdade à distância. Penso muito em psicologia.

Daisy: Atenção, pessoal, quando na sua empresa precisarem de uma palestra sobre “Superação” é só procurar o Kazê. Fonte de uma experiência riquíssima.

7- Você tem algum hobby? Por que classifica isto como hobby?

Jogo futebol de cadeira de rodas e também faço mergulho adaptado. Duas atividades que me dão muito prazer. Até mesmo a pintura, que apesar de ser minha profissão, é também uma grande terapia.

Antes do acidente eu já praticava mergulho, junto com meu pai e meu irmão. Depois do acidente eu achei que nunca mais poderia mergulhar, até que conheci o Jefferson, lá no Hospital do Fundão – meu amigo até hoje. Ele que me levou para o mergulho adaptado, com estruturas especiais. E no mesmo dia, eu liguei e comecei no dia seguinte.

Daisy: futebol, mergulho… Mas pelo visto, o mergulho é a paixão.

É mesmo, Daisy, quando eu mergulho vejo outro mundo dentro do nosso, você vê cores e seres inimagináveis. Pode mergulhar todos os dias no mesmo lugar que vai ver sempre coisas diferentes.

Daisy: Então vou te revelar uma coisa, Kazê. Uma das maiores emoções da minha vida foi mergulhar em Fernando de Noronha… O silêncio absoluto, as cores, as verdadeiras paredes de peixe se movendo coloridas… Emoção poderosa.

8- Se você fosse, por um dia, o homem com o maior Poder do Mundo o que faria nessas 24 horas?

Tentaria diminuir a fome no planeta, toda essa injustiça. Faria mais acordos, união, para um mundo melhor, sempre pensando na preservação da natureza, oxigênio, água potável.

9- Você já expôs seus quadros em outros países? Quais?

Argentina, e os quadros que eu mando para a Suíça possivelmente foram enviados para outros países.

Daisy: Meu amigo é internacional, viu gente?

10- Que obras estão expostas no momento?

Tenho nove quadros no Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek que vão permanecer até o final de novembro, tive quadros no Clube Naval que encerrou no mês de outubro e no Museu do Amanhã que se encerrou em 30 de setembro. Atualmente estou participando de exposição na Sociedade Brasileira de Belas Artes, organizada pelo BNDES.

Daisy: Atividade bem intensa, você é uma força da Natureza, Kazê. Nunca se cansa, cara? … rs

11- Qual a pergunta que você gostaria que eu tivesse feito e não fiz? Pois então, pode respondê-la.

Muitos me perguntam se sou feliz na minha condição de tetraplégico respondo que preferia não estar assim, mas como não posso mudar, tento viver da melhor maneira possível na minha situação. Trabalhando, ajudando sempre que posso um amigo, oportunizando momentos bons para me fazer feliz.

Daisy: … E para fazer os outros felizes também. Por isso é que seus amigos são mesmo aquele tipo “amigos para sempre”.

12- Tem alguma mensagem que queira enviar e que acha que pode ajudar pessoas?

Para quem tem objetivos na vida, se esforçar o máximo, sair de sua zona de conforto. Jamais desistir com um tombo ou fracasso. Ao mesmo tempo, aproveitar os momentos bons que a vida nos proporciona, curtindo as coisas simples, a família, um pôr do sol.

13- Por favor, nos diga com o que está envolvido  no momento e também fale um pouco sobre projetos futuros, se os tiver.

Continuo expondo meus livros, inclusive que pretendo me dedicar mais à pintura, estudar mais para aprimorar a minha técnica, e viajar, adoro conhecer novos lugares.

Daisy: Kazê, além de ter sido um bate – papo ( aliás, vários bate-papos) agradabilíssimos, você é uma pessoa superinteressante com quem eu aprendi muito. Muito obrigada.

Que é isso Daisy, sempre aprendemos uns com os outros. Eu que agradeço!

Daisy: Convido a todos para “visitarem” o @kazefraga nas redes sociais, ver fotos de sua obra e de suas atividades e palestras no seu Instagram, ver sua página no Facebook, e conhecer o Projeto Cidadão Legal, no endereço http://projetocidadaolegal.blogspot.com/.

Eu lhes asseguro: conhecer o Kazê é mais do que um prazer, é ganhar força, coragem e experiência de vida.

 

4 Comments

  • Lourdes Cruz disse:

    Entrevista linda, bem humorada descontraída amei. Senti falta dele falar um pouco do seu livro maravilhoso. O Keze lembra aquele hino a Minas Gerais que diz” Quem te conhece não te esquece jamais”. Daisy obrigada por intrevistar essa pessoa linda. Lourdes Cruz

  • Daisy disse:

    Lourdinha.

    Realmente o Kazê é isso tudo e mais. Agradeço – lhe por ter me apresentado pessoa tão especial. Bj

    Daisy Lucas

  • Alice Giannini disse:

    O Kazê Fraga é muito gente boa! E o livro dele, “VINTE ANOS E DOIS MESES DEPOIS: Muito além do trocar os pés pelas rodas”, além da Superação, considero uma linda história de amor! Amor à VIDA, à Família, aos Amigos, à Natureza, … A gente começa a ler esse livro e não consegue parar! Vale a pena ler, se emocionar, e rir com os “causos” que o Kazê conta no livro!

  • Carlos Kazê Fraga disse:

    Não tem como ser, agir diferente, rodeado de pessoas tão especiais! Obrigado Lourdes Cruz pela amizade e carinho! Obrigado Daisy Lucas por me dar a honra de ser entrevistado em seu blog! Obrigado Alice, por ser essa amiga tão especial e ter me ajudado a escrever esse livro que está encantando as pessoas!

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