Desgraça pouca é bobagem

daisy30marEstava eu escrevendo minha crônica para a KBR… gosto mesmo de escrever em cima da hora, para ficar em cima do lance, ou seja; comentar a notícia ou o evento da hora. Gosto de escrever crônicas, uma forma de expressão que não demanda imaginação, demanda apenas (ou principalmente?) pensar sobre os fatos, formular opinião e ter conhecimento consistente da língua portuguesa para não escorregar na gramática.

Pois bem, estava eu escrevendo quando me chamaram pelo Skype. Vou ser o mais sincera que posso, e aí tenho que lhes confessar que, quando estou escrevendo, Skype, SMS, Zap e o que mais rolar vai ficar rolando, porque, se depender de mim, desce a ladeira. Se eu interromper um texto ele acaba no limbo, tipo aqueles amores que a gente tenta ressuscitar de qualquer maneira e aí, a criatura fica ao nosso lado, um ser fantasmagórico que não consegue dizer a que veio e muito menos “cantar pra subir”.

À primeira chamada, eu, que já estava com o status “Ocupado”, nem me incomodei. Só que aí recebi um zap, e o zap dizia: “ Busy, or watching Brazil lose the game?”

, pensei, que gringo se atreveria a dar palpite nos meus “problemas internos”? Ih, era o Jerry, meu amigo inglês, cabeça boa, inteligente, nos conhecemos há uns anos num tour pela Inglaterra e conversamos até hoje.

Olha, mais pela curiosidade, resolvi atender. Que súbito interesse é esse do Jerry em política brasileira, se o barato dele é Literatura…

Aí ele me explicou. O jogo era de futebol, e o adversário era o Paraguai. Liguei a televisão, o placar estava 2 x 0. PARA O PARAGUAI! O gringo mocking me, e eu… fazer o quê? Resolvi me abandonar à própria sorte (ou azar) e passamos a conversar.

Expliquei a ele o que o Paraguai representava para os brasileiros em termos de piada. Ensinei-lhe uma palavra nova, “tabajara”, cuja origem (além daquela do Casseta & Planeta) fui pesquisar na internet, porque nessas alturas eu já estava com um olho na missa e outro no padre. Não que Jerry seja propriamente um padre no sentido religioso, mas certamente é um no sentido de aconselhar e trazer ensinamentos aos amigos. Mas isso fica para uma outra vez, porque a vez agora é de falar do MOMENTO TABAJARA que vivemos no Brasil.

Inacreditável!

Todos, to-dos os comentários que ouvi durante o jogo poderiam muito que bem ser aplicados ao nosso momento político: “Falta liderança”; “Emoção é na Globo”; “Felipe quis matar a bola e a bola quase mata ele”. Não é o que está acontecendo na política?

Falta liderança: para responder a esta pergunta, só vou lhes contar que no feriado passado repeti para amigos a pergunta que já havia feito a várias outras pessoas em diversas ocasiões, “Em quem liderança política você votaria hoje?”.  Adivinhem a resposta… Praticamente por unanimidade, as pessoas não reconhecem mais líderes confiáveis na política brasileira.

A outra frase — todos nós conhecemos fatos recentes em que o sujeito (e aqui não estou desdenhando nem galhofando, apenas denominando o sujeito da ação) quis afrontar, se fazer de mais poderoso do que a própria Constituição. E, como Felipe, a “bola” que ele quis matar no peito quase o matou.

Agora, “Emoção é na Globo”. Emoção, cara pálida? Quando a gente fala em emoção, normalmente está se referindo a uma coisa boa. Perder para o Paraguai seria uma “emoção”? Menos mal é que o próprio comentarista acrescentou: “Haja coração”.

Isso tudo não me diz respeito, porque no coração sou botafoguense, e aquela Estrela Solitária, mesmo quando perde jogo, é uma imagem tão forte e inspiradora que esqueço o resultado e me concentro nela. Mas com relação ao meu país, não dá para fazer isso. “É ‘haja coração” mesmo, e haja coragem para encarar os fatos e pensar neles, formar opinião, defendê-la.

Se no futebol estamos mal, na política estamos ainda piores. Líderes que já inspiraram multidões hoje estamos vendo que são lideranças “tabajaras”. E as circunstâncias? Como queremos ter sucesso com um time que… Olha, Neymar deve ser bruxo, ter bola de cristal, e fez aquela faltinha para não entrar nessa fria, ou então é mesmo um protegido dos deuses. Pois é: um time em que o treinador se chama Dunga, que tem um Hulk como jogador…Vamos combinar. Acho que o Neymar deve ser amigo da Branca de Neve e ela o incluiu fora dessa.

O pobre do narrador, sem ter mais o que lamentar, optou por se aventurar “de volta para o passado”, o que não resolveu nada. Igualzinho na política, em que eles ficam pesquisando casos do passado para justificar erros do presente. Pois que respondam todos, os presentes e os passados, para que possamos viver, nós, cidadãos honestos, que não vivemos de incentivos, nem temos amigos ricos que nos garantam casas e sítios, e viagens, e sei lá mais o quê. Muito pelo contrário, PAGAMOS, e pagamos caro. Que os que erraram, em qualquer tempo, paguem para que não tenhamos que ouvir mais a odiosa frase: “Sempre foi assim”. Que os “presentes” e os ‘passados” paguem para que possamos ter um FUTURO.

Jerry me disse que se fizermos uma análise com visão holística vamos ver que o Brazil (já lhe disse trocentas vezes que não é com z, mas …) passa por dificuldades cósmicas. Ora, Mister, give me a break. Estamos mesmo é passando por uma crise de desonestidade, encarando enganadores tabajaras se fazendo de santinhos, jogadores que em seus clubes europeus “arrebentam”, mas na seleção brasileira é isso a que assistimos.

Já vi esse filme, e não foi só em campo de futebol, não. Políticos que têm duas caras e mil formas diferentes de se comportar, dependendo do caso, da hora e do assunto. Os mesmos caras que são honestinhos, de repente ridicularizam os próprios correligionários, se dizem perseguidos e debocham dos poderes legalmente constituídos. Quando chamados à responsabilidade, dizem que “sempre foi assim”.

Pois que deixe de ser. JÁ.

Chega de atitudes “tabajaras”. O que sei é que, mesmo tendo quase ao final do jogo conseguido um empate, a seleção saiu com cara de quem comeu e não gostou, amargando um sexto lugar na competição, segundo o comentarista. Já os paraguaios, devem estar cantando “quaquaraquaquá… quem riu… quaquaraquaquá… fui eu”.

É… Desgraça pouca é bobagem.

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