Dividir para Multiplicar

Nesse clima de eleições revejo meu passado.

Não que seja saudosista, sou daquelas pessoas que acreditam que “o passado já morreu, quem vive agora sou eu”.

Ao conversar com meus netos adolescentes não pude evitar as lembranças. E recordar que, tal como eles são agora, eu fui sonhadora. Como acreditei, como acreditei… Especialmente em ideologias.

Mas o Tempo, senhor de quase tudo, vai passando, e nossa percepção fica mais aguçada, nosso pensamento adquire maior amplitude porque conseguimos ver além dos nossos sonhos.

Sim, qualquer adolescente que se preze e que consiga viver sua adolescência sem grandes repressões é um sonhador. E o seu sonho quase sempre é maior do que ela (ou ele) mesmo.

Eu não fui diferente, até que consegui olhar a realidade olho no olho.

Uma das coisas que consegui ver com relação a ideologia, foi que o ser humano ainda não está preparado para compartilhar. Ainda somos protetores do que é nosso, seja esta propriedade uma ideia, um carro, uma casa, dinheiro. Duvido que existam, em número significativo, almas tão puras que abram definitivamente mão de algo que lhe seja visceralmente importante em prol do outro.

Não estou aqui falando de “contribuir para campanhas”, de “emprestar seu nome a causas”. Estou falando é de abrir mão do seu conforto, de condição confortável, estou falando é de abrir mão, deixar ir, e não de pontuais ações meritórias. Não estou falando de visitar um asilo de velhos, de vez em quando, e fazer-lhes um carinho. Ou passar um domingo com órfãos e levar brinquedinhos recolhidos entre amigos.

Não, estou falando é da SOLIDARIEDADE TOTAL.

Quero ver um desses benfeitores pegar um velhinho daqueles, ou uma criança daquelas, e levar para sua casa.

Certamente haverá exceções, felizmente. Mas a grande, enorme maioria jamais faria isto.

E por que não?

Ora, porque para isto acontecer, teria o benfeitor que abrir mão de seu conforto, muitas vezes resultante das suas lutas…, e poucas pessoas abrem mão daquilo que foi resultado de luta e de sacrifício.

Portanto, para mim, esse papo de igualdade que os políticos praticam, é pura demagogia. Ninguém abre mão de nada, especialmente eles. O discurso de distribuição de renda, que deveria ser o mais levado a sério, por ser este sim, um discurso responsável e humano, este é praticado de modo paternalista com objetivo de manter a pessoa “amarrada”ao político que lhes concedeu aquele dinheirinho. Não interessa à classe política brasileira que as pessoas recebam um dinheiro e, para que não vejam aquilo como esmola ou como dinheiro fácil, concedam algo em troca – do tipo aprender um ofício, estudar, conseguir um emprego e orgulhosamente utilizar aquele dinheirinho parco como complemento para uma vida mais digna. Não, recebem uma quantiazinha, nada lhes é pedido em troca, ficam perambulando pela sua comunidade e seus filhos, pelas ruas. É ESSA A DISTRIBUICÃO DE RENDA que tenho visto por aqui.

…Mas quando eu era adolescente, achava isso o máximo. Ah, Tempo… Tempo sábio que nos faz crescer e até perceber porque a Cortina de Ferro enferrujou.

Porque o ser humano não sabe dividir para ,multiplicar.

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