Fome… de quê?

Paulo Betti - Mauro Kury 03Na noite do domingo passado, no restaurante ao lado do teatro, eu comia aqueles camarões com um apetite insaciável.

— Fome emocional — digo, envergonhada, à minha amiga Sonia. — Essa peça me atingiu como um raio, me emocionou de um jeito…

Tínhamos acabado de assistir à peça “Autobiografia Autorizada”, com Paulo Betti. Desnecessário falar do talento do ator, por demais conhecido e reconhecido. Mas, o seu texto… que coragem! Numa época em que tanta gente se esconde em falsos perfis, numa época em que a mentira e a desfaçatez são a tônica, ele se desnuda, se revela um sobrevivente, e generosamente compartilha sua história.

Muitas reflexões decorrentes. Para mim, logo de início, a grande responsabilidade do papel de avó no desenvolvimento afetivo da pessoa.

E o conteúdo social que se pode apreender? Fantástico, e nos faz perceber os tempos tenebrosos que vivemos.

Não consigo imaginar como, atualmente, alguém saído da extrema pobreza consiga ter as oportunidades que Paulo teve. Não consigo imaginar um jovem que, nas mesmas condições, mesmo com mais acesso à informação, alcance hoje o patamar de cultura e realização profissional por ele alcançado.

Costumo afirmar que vivo o meu tempo hoje, que não sou uma saudosista, mas naquele instante, tive saudade. Saudade de um tempo em que se podia ter Esperança, em que podíamos fazer planos de vida, traçar uma meta e, claro, com muita garra, persegui-la, sabendo que depois da luta algum bom resultado alcançaríamos.

As famílias, mesmo as menos favorecidas economicamente, tinham uma base cultural; livros eram um bem de família, honestidade e caráter eram valores cultivados. Mesmo pelos mais pobres. A contradição é que, com tanta informação hoje, não se vê, pelo menos com a mesma frequência, essa característica nos grupos familiares. Donde se conclui que a informação excessiva e de baixa qualidade é mais um lixo que precisamos descartar.

A sólida relação familiar, a generosidade, a sabedoria dos avós, a solidariedade e a energização que vinha desses valores, onde estão?

Claro que, felizmente, existem exceções. E são essas exceções que devemos procurar, descobrir onde estão esses corajosos e neles nos inspirarmos.

Ah, a “fome emocional”? Acho que é, exatamente, desses exemplos inspiradores.

Se você tem o mesmo apetite que eu, ainda tem chance. A peça estará em cartaz até o dia 13 /12.

2 Comments

  • Marina disse:

    Adorei o site, muito bem feito e organizado, podendo assim encontrar todas essas INCRÍVEIS crônicas e trabalhos que você produz. Parabéns pela conquista! ?

  • Daisy disse:

    Muito obrigada, querida. Você faz parte disso tudo, porque me incentiva e inspira. Beijo, Daisy Lucas.

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