O retorno de Macunaíma: uma fábula brasileira

bodeNosso Macunaíma não é índio. Entretanto, faz-se de negro, faz-se de operário, faz-se de pobre (quando lhe interessa).

Como o Macunaíma de Mário de Andrade, nosso Macunaíma é mentiroso, preguiçoso, faz muitas safadezas e fala muitos palavrões. Na verdade, seu grande barato é o poder.

Macunaíma apaixona-se pela Mãe do Mato, uma correligionária que lhe dá um amuleto, o muiraquitã, que, em nossa fábula significa continuidade no poder.

Sua herdeira bem que tentou ser tão heroica quanto o herói, pensando ser boa discípula, acreditando ter aprendido todos os expedientes que ele, com óbvias intenções, lhe ensinou. Só que não… e fez besteira após besteira, e tantas fez que acabou ficando refém de “amigos”, de empresários e até dos próprios aliados, numa ambição autofágica de poder que lhe cega os olhos e faz com que, dia após dia, ela enverede pelo Caminho do Sem Volta. Cercada de amigos infiéis — coitadinha, tão inocente, assina papéis sem ler, tudo em nome da confiança e da amizade —, esquece que a responsa é toda sua, porque, nesta altura, ela já é a chefe da tribo.

Confiante, viaja pelo mundo todo discursando baboseiras, faz amizade com os mais evidentes ditadores do entorno e acredita. Ah, como ela acredita. Crente que está causando, exalta a mandioca, faz pronunciamentos que mostram o seu estado de confusão mental. Quer um exemplo? Pois lá vai!

Se hoje é o Dia das Crianças, ontem eu disse que criança… o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais. Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante.

Lá vai outra pérola:

Os bodes, eu não lembro qual é o nome, mas teve um prefeito… teve o prefeito de Tejuçuoca e me disse assim: “Eu sou o prefeito da região produtora da terra do bode”. Então, é para que o bode sobreviva que nós vamos ter de fazer também um Plano Safra que atenda os bodes que são importantíssimos e fazem parte de toda tradição produtiva de muitas das regiões dos pequenos municípios aqui do Estado.
 

Pobre do nosso herói. A sua Mãe do Mato é tão ambiciosa quanto ele. Não aceitou “guardar a cadeira” para ele e enveredou por outro mandato. E, de mancada em mancada, foi sendo levada pelos amigos infiéis e pelo seu despreparo para resolver as dificuldades da tribo, até que a tribo foi ficando desacreditada do mundo indígena.

Todas as tentativas foram feitas, seus aliados queimaram pneus, fecharam estradas, invadiram terras, mas… Os mercadores já não queriam seus produtos, o dinheiro da tribo foi desvalorizando, a dívida crescendo e ela fingindo que dava boa condição aos mais pobres, com umas merrecas mensais, mas não lhes oferecia o que um povo precisa para crescer: trabalho. Claro, quem iria investir numa terra onde o chefe da tribo quer fazer Plano Safra para bode?

Enfim, dizendo-se cansada de traição, ela foi levada ao Conselho dos Anciãos, que queria destituí-la do Poder. Macunaíma fez o que pôde — afinal ela era a sua pupila —, mas não deu. Todos os recursos, dos mais nobres aos mais ignóbeis, foram tentados, mas… Eles já haviam perdido o muiraquitã.

Bom, o final desta fábula ainda não sabemos, muita água há de rolar, muita encenação, muita tentativa de prolongar o processo, mas os Anciãos estão vigilantes. Eles não brincam em serviço, porque… claro, não abrem mão do seu lugarzinho no Conselho. Além do mais, a tribo toda está acompanhando o causo.

É… Todo mundo quer tirar o bode da sala.

O grande Mário de Andrade que me perdoe, mas eu não podia perder essa sua frase lapidar.

 

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