Oficina da marginalidade
Quem, dentre os que estão lendo esta crônica, daria emprego a um ex-presidiário? Não tenho bola de cristal nem trabalho em instituto de pesquisa, mas asseguro que pouquíssimas pessoas. Ou nenhuma. E por quê?
Resposta óbvia. O sistema prisional apenas cumpre o papel de “guardar” o preso, sem dar-lhe a menor condição de ressocialização. O Professor Roberto Porto, em seu trabalho “Crime Organizado e Sistema Prisional” para a Fundação Álvares Penteado, diz que em nosso país o preso é ocioso e caro, inútil e nocivo à sociedade. A sabedoria popular nos lembra que cabeça vazia é a “oficina do diabo”. Nesta altura do campeonato, para quem vive nos infernos das cadeias, a falta do que fazer é a oficina da marginalidade; nas cadeias superlotadas a ociosidade promove cursinhos de pós-graduação em malandragem e aprimoramento das técnicas que levaram as pessoas a este destino.
Além disso, existe aí uma questão de saúde pública — a maioria das prisões não oferece a menor condição de higiene, pelo que vemos frequentemente nos telejornais. A tuberculose campeia, assim como proliferam doenças sexualmente transmissíveis e outras doenças infecciosas, que acabam sendo transmitidas aos visitantes e aos próprios funcionários das cadeias.
Diante disso, eu, embora leiga no assunto, me manifesto como cidadã que se informa e tem uma opinião. Pra mim, a Justiça italiana mandou bem quando se negou a extraditar o Sr. Pizzolato, dando razão aos seus advogados, que alegaram que as cadeias no Brasil apresentam condições “degradantes”, e violam o princípio da dignidade humana.
Pura verdade. Não acredito, como vi comentários, que seria uma vingancinha besta, por causa da não-extradição do italiano Battisti. Temos que admitir, embora mortos de vergonha, que é a mais cristalina das verdades.
E, além disso, como informa o G1 – Brasil / Sistema Penitenciário de 24/08/09, “O custo mensal de cada preso no sistema penitenciário federal é quatro vezes maior do que de um detento em penitenciária estadual. Segundo levantamento do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o governo gasta R$ 4,8 mil por indivíduo no sistema de segurança máxima, enquanto que a média no país é de R$ 1,2 mil”.
Quer saber? Nós temos mais é que agradecer um gasto a menos no nosso orçamento.
Afinal, já gastamos demais com os outros do mesmo processo, que, aliás, já estão “soltinhos”, em suas respectivas confortáveis residências.
Deixa o Pizzolato comer sua pizza em paz na bella Italia, porque, desta vez, além de pizza, tudo acabou em Pizzolatto.