Outono, Tico e Teco

A Natureza é sábia mesmo, nada acontece em vão, ou sem lógica, ou sem propósito.

O outono, dourado, nos chega em momento bem adequado no nosso país, hora em que poderíamos nos livrar das coisas ruins, dos conceitos hipócritas, das velharias, enfim, das folhas mortas, para dar espaço às flores que carregarão sementes para novos frutos.

E fico eu pensando como seria bom se nós, seres humanos, tivéssemos o desapego e a inteligência de desenvolver a capacidade de nos livrarmos dos antigos pensamentos, das antigas crenças e partirmos para novas ideias. Mas, ao contrário, o mais comum é ver-se pessoas cada vez mais apegadas aos seus pensamentos de ontem, sem se darem a chance de partir para novas linhas de raciocínio.

Admito que é bem difícil mudar, temos uma tendência natural a manter o que já está consolidado, como se fosse um muro no qual nos apoiamos e que não nos deixa perder o equilíbrio.

Tivéssemos nós herdado a ousadia da Natureza e nos daríamos a oportunidade de rever nossos conteúdos, da mesma forma com que mudamos de vestuário, caso esteja mais frio, ou mais calor. Não estou com isso dizendo que deveríamos mudar nossos conceitos a todo o momento, mas revê-los de vez em quando seria como tirar a poeira do nosso “armário de ideias”. E ocasião bem oportuna para isto é a chegada do Outono, tempo em que uma árvore não teme deixar que suas folhas caiam, que o chão fique colorido de folhas mortas, porque, afinal, elas já estão mortas, e podem no máximo servir para adubar o solo, assim como as ideias antigas poderiam “adubar” as novas, podem servir de base aos novos pensamentos que virão.

Mas, em vez disso, as pessoas se agarram aos seus conceitos, repetem os mesmos caminhos, as mesmas frases “Nasci assim e vou morrer assim”… Pobre pessoa esta, não percebe que está ficando tão velha quanto seus velhos hábitos e conceitos, tornando-se também uma folha morta, que uma lufada de vento qualquer vai levar para longe.

Ora, pode perguntar você… “O tempo faz isso com as pessoas, não é?”

Bom, se você me responder com esta pergunta, eu volto aos meus livros de Neurologia, os mesmos em que estudei quando fiz Fonoaudiologia, e te respondo: “O tempo faz algum estrago, é certo, mas você pode resistir e dar mais trabalho a ele”.

“Como?”

“Ah, é uma longa história, mas abreviando, voltei aos meus livros e pesquisei que nas fases finais do desenvolvimento do cérebro, acontece a “poda neuronal”, que é exatamente a eliminação das folhas mortas, quer dizer, das sinapses que não são utilizadas pelo cérebro. Isso acontece para concentrar o desenvolvimento naquelas sinapses que estão sendo usadas, e fortalecê-las. Você sabe que sinapses são as conexões entre os neurônios, o Tico e Teco, as células cerebrais, não sabe?”

Pois então, continuo eu, quanto mais sinapses ocorrerem, maior a flexibilidade neuronal, melhor o funcionamento do cérebro que estiver em condições normais.

Bom, se sabemos que todo novo estímulo pode gerar novas sinapses, vamos lá, ação, resistência! Vamos à luta tal como a Natureza e liberemos as folhas mortas da nossa mente, vamos formar novas sinapses, adquirindo novos hábitos, mudando nossos percursos, buscando novos conhecimentos, fazendo do lugar em que vivemos um ambiente motivador e estimulante, em que possamos acessar nossas recordações e incorporar novos acontecimentos à nossa memória.

Vamos buscar novas experiências, novas aprendizagens, e realizar novas aprendizagens motoras, como a dança, a bicicleta, a caminhada, pois a atividade motora estimula o cérebro a coordenar os movimentos, criando novas sinapses.

E, o mais importante, adquirindo novas experiências você vai revigorar–se, vai estimular seu raciocínio, vai oferecer oportunidades para formar novas sinapses e ampliar o seu intrincado circuito de sinapses.

Bom Outono para você, espero que se livre das folhas mortas.

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