Palavrão

daisyjun1Motivados pelo caso lamentável de estupro acontecido no Rio de Janeiro na semana passada, tenho visto muitos comentários nas redes sociais que relacionam a questão ao feminismo.

Pois vamos, então, ao FEMINISMO.

Na Idade Média, mulheres que tinham atitudes mais proativas eram chamadas de bruxas e eram queimadas. Se tivessem um pouco mais de sorte eram entregues aos pais ou aos maridos, que as encarceravam para sempre. E elas continuavam a fazer suas “receitas mágicas”, embora nunca tivessem acertado na receita para a própria libertação.

O Movimento Feminista já existia desde o século XIX, e seu objetivo era reivindicar o voto para as mulheres, o direito ao trabalho e o direito ao estudo. Pois é… mulheres não votavam, só trabalhavam em tarefas domésticas ou naquelas que o marido ou o pai permitisse. E estudar… “ora, mulher vai estudar pra quê!”, era o que exclamavam.

Para termos uma ideia, aqui no Brasil, por exemplo, a mulher não podia assinar um contrato sem o aval do marido.

A Constituição não se referia especificamente às mulheres, e só a partir de 1988, em seu Artigo 5º, a Constituição passou a dizer: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: “I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.

Muito bem, a partir dos anos 1960, a luta era por direitos trabalhistas iguais, legislação civil igual à dos homens e o papel na sociedade.

Para serem ouvidas, as mulheres americanas fizeram o evento “Bra burning”, que aconteceu em 1968 em Atlantic City: foi a queima simbólica de sutiãs, como simbologia para se livrarem da opressão. Além dos sutiãs, jogaram para o espaço sapatos de salto, cílios postiços, cintas, vidros de laquê e outros “instrumentos de tortura”, como chamaram. A fogueira não aconteceu porque a direção do local não permitiu, mas abriu a brecha que o mundo feminino esperava, e milhares de fogueiras foram acesas mundo afora. As “bruxas”, antes queimadas, agora mandavam para a fogueira a opressão.

Claro que, alcançado o mundo, as interpretações para o movimento se expandiram e muitas vezes, seus objetivos foram distorcidos. Ao longo do tempo o objetivo da luta se ampliou para o direito à sexualidade, afirmação da propriedade ao próprio corpo e direito de optar pelo aborto.

A polêmica se generalizou, e aqui no Brasil e em alguns poucos países da Europa mulheres feministas eram consideradas “pouco femininas”.

Passa o tempo que passa e, fico pasma, mas vejo que esse preconceito ainda existe, e aí eu chego onde queria: as redes sociais estão cheias de comentários de mulheres que se ofendem quando chamadas de feministas, ou justificam seus comentários dizendo: “Eu não sou feminista, mas…”

Por que isso? Fico pensando, e a única razão que encontro é que muitas vezes os conceitos do feminismo são distorcidos e aí vira um saco de gatos. O que tem de gente que se aproveita do feminismo para emitir conceitos próprios e, a meu ver, passíveis de críticas! Não por serem de vanguarda, já que existem diversas civilizações que os admitem, mas por merecerem um debate mais amplo e muita reflexão.

Por exemplo, o “poliamor” — era assim que a pessoa dizia na TV, e acrescentava que as mulheres deveriam, como os homens, ter o direito de conquistar quantos quisessem, homens ou mulheres e, segundo ela, isso estava na categoria de “relacionamento aberto”. Não foram exatamente essas palavras, mas era esta a ideia. Vários participantes do programa aderiram, aplaudiram, foi uma chuva de elogios à “vanguardista”. Além deste conceito, uma enxurrada de palavras demagógicas, sabe… aquelas que as pessoas dizem quando querem aparecer como “diferentes e avançadas”?

Lembrei-me disso quando li a história do estupro. Meninas largadas à sua própria sorte, que não tenham uma família que lhes dê referências e limites ouvem isso… Hum, é um prato feito, não acham?

É preciso termos responsabilidade no que dizemos, especialmente quando escrevemos, ou nos comunicamos com o grande público, porque numa roda de amigos nós sabemos quem está lá, e até onde podemos ir, mas para o público a ideia tem que ser muito bem explicada…

Por isso é preciso que as feministas verdadeiras, as que não emitem seus conceitos apenas para faturar títulos de moderninhas ou de vanguarda, não se envergonhem de dizer: “Sou feminista”.

Quando nós, mulheres comuns, que lidamos com a dificuldade de sermos preteridas no trabalho porque “é trabalho de homem” pudermos dizer isto em voz alta e com a certeza de que estamos no caminho certo, “feminista” vai deixar de ser palavrão.

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