Pânico!

Quando passamos por situações difíceis…, ou complicadas, ou…. Quando imaginamos que estamos correndo algum tipo de perigo – de nos ferirmos, de vida, ou mesmo durante os nossos sonhos, a tendência é de nos entregarmos ao pânico.

Uns dias atrás passei por um momento destes.

Num shopping de pouco movimento (evito shoppings muito movimentados, me causam arrepios) estava eu bem despreocupada, descendo para pegar meu carro no estacionamento. Abri a bolsa para pegar o ticket (absurdo o que se paga por estacionamentos em shoppings, já que estamos lá para gastar). Prosseguindo, estava eu inspecionando minha bolsa (sempre é difícil achar aqueles pedacinhos de papel que registram, aqui no Rio, R$ 16,00 se você passar de quinze minutos no interior do shopping). Quem passa apenas quinze minutos em um shopping? Só o tempo de sair do estacionamento e alcançar uma loja é este tempo…

Não percebi que meu vestido, comprido se enroscou na escada rolante.

A princípio tive vontade de gritar por socorro, mas olhando ao redor, não vi nenhum segurança ou coisa que valha. Tentei rasgar a ponta da roupa e me livrar do inimigo de ferro que me prendia e me puxava cruelmente.

Mas não entrei em pânico; vendo que precisava de ajuda não me restou alternativa a não ser gritar; soltei aquele grito que guardamos para momentos de horror. Felizmente uma vendedora da loja mais próxima acudiu e surgiu um segurança correndo, provavelmente imaginando ser um assalto. Afinal, estamos no Rio de Janeiro, onde estacionamentos e interior de shoppings passaram a ser lugar de risco.

Quando eu já estava praticamente chegando ao final da escada juntei forças e puxei com tal gana o vestido que consegui rasgá-lo. O segurança assistia, andava de um lado a outro, sem ter iniciativa alguma.

Consegui sair e a escada parou. Depois disso, apareceu alguém da Manutenção e colocou-a novamente para funcionar.

Não pense que estou contando a minha história para que você tenha piedade, ou que teça comentários do tipo “Daisy é descuidada, ora veja não notar que o vestido poderia prender-se à escada”.

Não. Isso aí eu já saquei, faço o mea culpa.

Normalmente escrevo ficção, mas desta vez resolvi contar fato verídico para traçar um paralelo com a situação que vivemos hoje no Brasil.

Sim, estamos descendo a ladeira – de lama, a mesma que jorrou lá em Mariana em 2015 e que até hoje mantém ao desabrigo centenas de pessoas sem que a Justiça tenha obrigado a empresa causadora do monumental dano ecológico retirar do seu lucro a quantia que já foi definida e que até hoje não foi devidamente aplicada para devolver às pessoas uma nova casa, um lugar decente para viver.

Impensável, não é? Mas acontece. Nossa Justiça é lenta, e os poderosos que têm grana postergam sentenças até cansar. Assim está acontecendo em nossos dias. Políticos poderosos, presos, serão soltos e só serão presos anos depois de serem sentenciados. Isso se suas sentenças não prescreverem.

Nós, povo que não teremos essa condição. Quem tem grana para manter advogados por anos e anos? Nós, povo, não teremos essa chance. Gritamos, é bem verdade, nos manifestamos, fizemos passeatas, berramos a plenos pulmões que lugar de corrupto é na cadeia, que o povo merece respeito…

Os corruptos que foram surpreendidos em descuidos como o que tive na escada rolante, esses tiveram conversas gravadas, vídeos gravados, provas consistentes. Mesmo assim podem ser soltos, porque de algum lugar a grana vai aparecer para manter a máquina da justiça funcionando. “ Funcionando” ou dando defeito?

Da mesma forma que a escada rolante no caso que lhes conto, parou e foi consertada, me livrando, no mínimo, de ter que fazer um strip-tease involuntário, espero que o pânico não se instale, que a máquina da corrupção seja interrompida, pare e obrigue a muitos strips, seguidos de alguns gritos que digam “O rei está nu”.

E que a Justiça seja feita.

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