Que Deus é Esse, meu Deus?

Ontem eu vinha das compras, num trem do Metrô relativamente vazio, quando se sentou a meu lado uma mulher jovem, uns trinta anos se tanto (cabe ressaltar que quanto mais velha fico menor capacidade tenho para identificar idade alheia…).

Bom, cabe aqui um aviso de amiga: se a pessoa próxima a você “tiver cara” de escritora, escritor, pintora, pintor, escultora, escultor, tenha cautela. Estas pessoas não têm o menor pudor de observar você o mais profundamente que puder, porque seu objetivo não é ver a roupa que veste ou a bolsa que carrega, alguma joia, nada disso. Seu objetivo é desnudar sua alma.

Digo isso tudo para que você não me tenha como uma fofoqueira qualquer, que anda por aí querendo saber da vida dos outros. Minha razão é mais nobre, acho (mas de qualquer maneira não consigo conter o riso diante desta justificativa).

Enfim, sem mais delongas, vamos aos fatos.

Linda moça, tipo bem moderninho, usava ela o jeans da moda, bem rasgadinho e só por esta razão eu não diria que fosse uma fada – com seus cabelos louros e seus olhos azuis. A menina, sua filha, um anjinho ao vivo e a cores.

Acho que tenho cara de Mamãe Noel, porque geralmente atraio crianças o ano inteiro, que dirá nas proximidades do Natal. A criança, uns três anos, mal sentou no colo da mãe, encantou-se com meu colar, e fez menção de tocá-lo.

Olhe, eu até me assustei. A “fada” deu um berro que quase me enfartou, mas a menina recebeu aquilo com tanta naturalidade que, imagino eu, deva ser a forma de expressão de sua mãe que, imediatamente, começou a dizer coisas para a filha que eu nunca ousaria dizer a uma criança daquela idade.

Desconhecendo minhas palavras “Não precisa se zangar com ela, é uma criança, tem curiosidade, eu posso até emprestar o colar para ela, depois me devolve”, a mulher simplesmente me deu um olhar de “Cala a boca aí” e começou a desfiar um rosário de repreensões, “não se mexe no que é dos outros, etc e tal”… A menina, quieta, continuou a olhar o colar, sem se abalar. De minha parte, atendi ao olhar ameaçador e voltei à minha leitura, profundamente constrangida.

E assim continuamos a viagem, até que eu ouvi “Papai do Céu tem uns castigos horríveis para meninas como você”. Aí foi demais para mim. Fechei meu livro e mudei de lugar.

Mas fiquei pensando na história do Deus punitivo, que promove castigos a uma criança pela sua curiosidade. E como é comum que se mostre a crianças essa face de um Deus repressor, mesmo que não seja de modo grosseiro como o que tinha acabado de assistir.

Muitas vezes esse conceito aparece mais disfarçado, do tipo “Papai do Céu só gosta de pessoas boas, seja boazinha para agradar a Deus”.

Imagino que talvez seja menos trabalhoso educar promovendo o medo, mas não consigo atinar o que faria uma pessoa plantar o medo em lugar de disseminar o amor. E fico pensando, pela atitude da menina, até onde uma imagem dessas pode levar o próprio Deus ao descrédito, gerando na criança um comportamento indiferente ou cínico.

O meu Deus não tem esse rosto; aliás, nem rosto tem porque ele é maior que o mundo, maior que o medo, que o susto, mas pode ser tão pequeno que se for transmitido pelo amor ele cabe dentro de cada um de nós.

E nessa época, em que nos preparamos para uma festa tão linda como o Natal, proponho uma reflexão sobre o amor, a compaixão, e sobre o Deus verdadeiro. Sobre um Deus que convence pelo Amor.

Nesse Deus eu aposto todas as minhas fichas, porque tenho certeza que todos os que O buscam aprendem a encarar e a vencer o medo. Aprendem a conhecer e a viver o Amor.

1 Comment

  • Daisy disse:

    Gostei Daisy
    É verdade. Existem pessoas que amedrontam crianças, mostrando um Deus que deve ser temido,quando ele é só AMOR.bjs – Eliane Tavares
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    Transcorrem os séculos e os deuses que representam as diversas igrejas e credos têm as aparências semelhantes, tanto figurativas quanto comportamentais. Usar a figura divina para a intimidação infantil em sua educação é algo assustador e é o que se tem visto até os dias de hoje. Sem dúvida, muitos supõem que a educação é mais fácil e utilizam o medo do divino por pura ignorância. Amar e não temer um Deus sem rosto pode também significar insegurança e pavor. Espero que a humanidade seja algum dia tocada, semeada e inebriada por centelhas de amor e compaixão. Gosto muito dos seus artigos, pois muitos deles me despertam a vontade de refletir e divagar com bons pensamentos. Um feliz Natal e um ano novo inovador!!!! Bjsss – Cláudia Campelo
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