Tudo – Office

Ninguém é Feliz Sozinho.

Êta frasezinha clichê. E exatamente por ser clichê poucas pessoas reservam um tempinho para refletir sobre seu conteúdo.

Mas vamos lá, topo o desafio de refletir sobre o óbvio, quem sabe a gente descobre um novo ângulo?

Começo pela minha expectativa inicial quando a pandemia deu o ar de sua… desgraça. Ao fim dos primeiros seis meses as pessoas pareciam estar sedentas de contato humano, ansiosas para o encontro, para o abraço, para o contato físico, enfim.

Sinceramente eu imaginava o quanto se valorizaria mais tarde o contato, o toque, o abraço, o beijo. Mas o tempo foi passando, a situação de afastamento permanecendo, as mortes acontecendo, parece que as pessoas se acostumaram à distância. Tenho observado que – com algumas poucas exceções, a ansiedade pelo contato foi para o espaço. Todo mundo se acostumou ao on-line, às telinhas ou telonas, como náufragos de si mesmo, buscando boias para salvar-se do tédio, da preocupação e do medo.

Beijinho, beijinho? Já era. Aperto de mão? Hoje até recolhemos a mão quando alguém ousa estender a sua, mesmo gastando litros de álcool 70.

É como se todos nós de repente tivéssemos nos transformado naqueles povos asiáticos cujo cumprimento é a reverência.

De repente, aliás, não tão de repente assim, parece que as pessoas se acostumaram ao isolamento, ao tudo – office (trabalho, estudo, compras, lazer, namoros, relacionamentos entre amigos).

E saímos todos perdendo, porque na distância os relacionamentos esfriam, sem o contato “ao vivo” dos olhos, o Zoom da alma fica embaçado.

Mas, fazer o quê?

Ah, eu não tenho formula mágica a sugerir, como dizia meu avô, “cada um é cada qual”, o que me fazia rir muito.

Sim, e cada um e cada qual vai ter que se redescobrir e tentar desbravar os caminhos de si mesmo para conseguir salvar a afetividade, para continuar acarinhando os seus queridos, para resgatar a emoção nos relacionamentos que perderam a proximidade.

Acredito que a máscara vai mesmo fazer parte de nossa vida durante muito tempo, sei que vai. E, apesar de ter consciência da absoluta necessidade, me preocupo muito com isso. Por quê?

Porque ela esconde o sorriso, e o sorriso é o símbolo da alegria, da felicidade. Estando escondido, talvez as pessoas não se lembrem de como é importante fazer o outro sorrir. Sim, ninguém é feliz sozinho e o sorriso do outro é a medida mais evidente que usamos para ver a felicidade, a nossa inclusive.

A sua tristeza você percebe, ela dá um sinal – você sente as suas lágrimas, você enxuga suas lágrimas, dando assim um grau de concretude à sua tristeza.

Mas e quanto à sua alegria, ou felicidade? Você não consegue ver o seu próprio sorriso, a menos que esteja diante de um espelho. Você só consegue ver o sorriso de quem está à sua frente, ao seu lado. E a máscara esconde isso.

Esse é o seu, é o meu, é o nosso desafio: descobrir o que faz o outro sorrir, ter sensibilidade para perceber quando o outro está sorrindo, mesmo que escondido atrás de uma máscara.

# Máscara, sua danada, você pode salvar vidas.
# Complicado, né? Mas use máscara.

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