Morte lenta

cafecinemaJá “naveguei’ por alguns “mares profissionais”. Fui professora, fonoaudióloga, quase formanda em Jornalismo, pedagoga empresarial. Trabalhei com gente simples, com gente importante, com profissionais competentes e com incompetentes também. Aliás, a bem da verdade, devo confessar que, para minha sorte e bom aprendizado, foram pouquíssimos os incompetentes com quem esbarrei no mundo do trabalho.

Já fiz trabalhos bem remunerados, de remuneração que até me envergonhava de tão irrisória, já até trabalhei de graça (e ainda faço os meus voluntariados, quando o tempo me permite).

Depois de tanto “batalhar”, resolvi atender aos apelos do que costumamos chamar “vocação”. Contei dia a dia o tempo mínimo necessário para me aposentar e danei a escrever.

E foi quando conheci o que é a verdadeira BATALHA.

Não porque seja a ocupação mais difícil, não porque me julgue uma respeitável intelectual daquele tipo tradicional, pessoas que só porque têm a ousadia de dar a cara a tapa apresentando suas ideias e seus escritos se acham e se acomodam, esperando que o livro se venda sozinho. Mas porque é uma tarefa inglória, uma luta em que se tem a consciência de que se é minoria absoluta. Isso mesmo, e a certeza vem quando olhamos as pesquisas (poucas) sobre o hábito de leitura do nosso povo.

Lembro-me bem de que era um programão ir a uma livraria, ficar analisando capas, prefácios, contracapas, para escolher um livro.

“Ah, mas agora não se precisa fazer mais isto, a gente lê na internet”, poderia alguém argumentar.

Mentira. O ebook não conquistou novos leitores no Brasil, apenas facilitou ao pequeno percentual de leitores que experimentassem um novo formato, mais prático, mais ecológico, mais atual.

No dia 31 de março, saiu publicado (O Globo) que, em 2014, sete entre dez brasileiros não leram um livro sequer. Não leram… em formato algum, em nenhum tipo de mídia. Simplesmente NÃO LERAM.

Segundo a Associação Estadual de Livrarias do Rio de Janeiro, 18 estabelecimentos cerraram suas portas nos últimos dois anos (O Globo, 17/06/2015)

E aí eu fico me perguntando: “Como assim?”

E eu mesma me respondo: “É assim, sim”.

E tenho que ficar exultante, porque no último sábado, no lançamento do meu novo livro, tive público-leitor (talvez cada um dos meus amigos seja um dos três leitores em cada dez…)

A escolha da livraria foi um ato de protesto. É bem provável que seja a próxima a fechar suas portas, apesar de, como outras, ter adotado o novo modelo de negócios que oferece o livro como um plus. O foco do negócio acaba por ser o café, a quiche, o escondidinho, o sanduíche.

Naquele dia, tive o prazer de vê-la repleta de leitores, e iluminada.

Entretanto, Milena Duchiade, dona da Livraria Leonardo da Vinci, quando anunciou o fechamento da Livraria em 2015, disse que “teimosia tem limite”.

Claro, formar leitores não é exatamente o papel de livrarias. A quem caberia este papel? Aos governos, aos pais, à escola?

Enquanto não se tem uma resposta para a pergunta, vamos continuar assistindo à morte lenta de um dos pilares da Cultura em nosso país.

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