O maior espaço do mundo

Para mim, o maior espaço do mundo está entre as duas orelhas.

É ali que está o centro da inteligência humana — poderia dizer mesmo, a nossa CIA, com todos os apetrechos que o órgão de inteligência americana pode utilizar. Temos ainda uma vantagem — podemos acessar nossa intuição, embora esta eu não saiba em que parte do corpo se localiza.

Claro está, ou pelo menos espero que assim me compreendam, que este não é um texto técnico, apenas uma divagação quase ficcional para iniciar minha crônica, motivada por uma imagem que está cada vez mais comum nas ruas.

Nas ruas da minha cidade? Ah, não somente, está nas ruas do mundo, e você com certeza já viu esta imagem uma porção de vezes.

Estou me referindo aos que “falam sozinhos”, e aí não se trata mais de uma imagem. É pra valer. Falo dos que entopem seus ouvidos com um fone de ouvido e danam a conversar com eu sei lá quem.

Hoje mesmo, num shopping aqui do Rio, vi uma cena dessas. A moça gesticulava, e abanava os braços, ora ria um riso alto, ora ficava mais taciturna (que me desculpem os mais jovens, mas hoje de manhã andei lendo dicionários, hahaha). Eu estava com tempo suficiente para curtir o momento, e foi o que fiz:, dei uma de Sherlock e segui a moça.

Pude observar que, além de mim, ninguém mais dá a menor bola para o fato; é a coisa mais corriqueira do mundo, ninguém estranha, ninguém observa, tudo normal. Só eu mesmo encrenquei com a história, e fiquei imaginando o que faria a minha avó, que está lá entre anjos, e o que ela diria com seu sotaque cearense… “A moça tá é doida, onde já se viu sair falando sozinha pelo mundo afora, inda abre e fecha os braços, parece até que vai sair voando. É… o mundo vai mesmo se acabar”.

Nessa altura, já estávamos sentadas num café. A moça sequer interrompeu sua conversa para fazer o pedido, mostrou no cardápio o que queria e pronto. Aí eu ouvi com clareza o que ela dizia… estava tentando impressionar um homem, ou era o que parecia, porque, além de discorrer sobre suas habilidades culinárias, ainda dizia o quanto havia emagrecido “desde a última vez que nos vimos”. O homem parecia não estar muito convencido, imaginei, porque a ouvi dizer “Duvida? Te mando uma foto!” e abriu aquele sorriso, mandou ver numa foto com flash e tudo e…

Ah, aí não sei se a bateria do homem acabou, ou se ele constatou que o papo não era muito verídico, só sei que ela ficou repetindo umas cem vezes “Celso, Celso… fala, Celso”. E o Celso… nada. Nadica de nada.

Então vi o sorriso murchar, a voz se calar, e pensei, Coitada, ficou decepcionada.

Qual o quê! Quando ela se deu conta de que o papo tinha mesmo acabado, tomou o café, pagou a conta, abriu outro sorriso e: “Oi, Ricardo?”

Levantou-se, enquanto permaneci sentadinha tomando o meu café, e vi quando ela deu umas duas voltas sempre gesticulando e balançando os braços… Talvez quisesse mesmo voar.

Bom, disso eu não tenho certeza, mas tenho cá pra mim acho que para ela o maior espaço do mundo é um shopping.

Fazer o quê?

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