Parece que foi ontem…

old-tv— Vai dizer a um garoto desses aí que a TV era em preto e branco até uns quarenta anos atrás…

— Eles nem vão acreditar.

— Não, não vão mesmo.

— E que o tal de delivery só existia naqueles filmes americanos, onde o galã pedia pizza e o entregador chegava com cara de assustado.

— Não é? Parece que foi ontem…

Bom. Aí o papo começou a me interessar. Tarde quente, depois da minha caminhada habitual, estava eu sentada num quiosque da praia, onde candidamente tomava minha água de coco. Meus ouvidos, ótimos radares para assuntos que possa aproveitar em meus textos, apitaram: Opa! Isso dá “samba”!

Claro está que no mesmo instante ruídos outros se esvaíram no éter. Barulho de motores, gritos de vendedores, choro de criança, tudo foi para outra dimensão, porque aquele diálogo me mostrou que eu tinha assunto e personagens. Ajustei o foco do receptor, lamentei que o “alto-falante” fosse tão pequeno, celebrei que, pelo menos, estavam um pouco maiores pelo passar do tempo (pois é, outro dia me disseram que com a idade as orelhas crescem, enquanto a altura diminui). E, sem me virar para as pessoas, pois queria focar apenas na conversa, continuei minha escutação. Eram duas vozes masculinas.

— Mas aqui no Brasil começou essa onda de delivery só mesmo uns anos atrás…

— É. Uns poucos anos atrás.

— E também começou com pizza.

— Hum… desta vez COMEÇOU, porque aqui tudo ACABA nela.

— Mas agora o negócio está sofisticado… tem delivery de tudo quanto é tipo e de todo jeito… Delivery de comida, de bebida, de aparelhos elétricos, outro dia eu li no jornal que tem até assinatura de clube gourmet, que contrata especialistas, tem até curadoria, veja bem, cu-ra-do-ria… antigamente isso era coisa de museu. Estamos voltando no tempo.

— Ah, mas delivery de mulher sempre existiu…

Riram os dois.

Depois de uns minutos, retomaram a conversa.

— Ah, tudo era diferente… Você lembra quando a gente, saindo do ginásio, fazia aquela brincadeira?

— Que brincadeira?

— Aquela, de ficar apontando para o céu…

— Ah… ah… se lembro, a gente dizia que tinha visto um disco voador. E o povo parava para tentar ver também. Hoje tem até ônibus espacial… ÔNIBUS ESPACIAL!

— Quando nós poderíamos imaginar que um dia ia ter isso, à vera.

— É mesmo. Não dava nem pra imaginar.

Riram, novamente, os dois.

E riram tanto que as vozes murcharam, e fiquei a refletir porque os microfones estariam fazendo aquele barulho meio asmático, microfonia pura.

Rapidamente saquei meu celular, e Google nele. Achei! Funcionamento de microfones: “as ondas sonoras são convertidas em vibrações mecânicas através de um diafragma fino e flexível e em seguida convertidas em sinal elétrico através de bobina móvel ou por carga e descarga de um condensador. No caso de microfones de condensador estes necessitam de uma tensão de alimentação contínua, chamada de phantom power, que é de facto uma tensão de polarização”.

Quando me virei na direção dos conversadores, e vi que, juntos, deveriam ter uns cento e oitenta anos de idade, soube que o diafragma daqueles microfones já deviam estar meio sem pressão, e que  certamente eram do tipo que usam condensador…

O phantom power já devia estar na parada…

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