Dividir ou compartilhar?
Confesso que algumas coisas me fascinam no Facebook. Uma, é que me devolveu pessoas que povoaram o meu passado, foram tão importantes e a vida tinha nos separado.
A outra é a coisa do compartilhar. Ufa! Até que enfim vi a palavra ser usada com propriedade. Cansei- me de ver e ouvir as pessoas dizerem “Quero dividir com vocês”… a alegria, ou a informação, ou a preocupação…
Fico eu de cá pensando onde esse povo definiu que alegria se divide.. E me mando eu lá pro pai dos interessados (quem chamou dicionário de “pai dos burros” não estava com nada). E aqui preciso fazer um parêntese: antigamente chamavam dicionário de pai dos burros, mas quem criou a expressão devia ser um daqueles sabichões que… Bom, mas eu precisava esclarecer isso, porque algum leitor mais jovem talvez nunca tenha ouvido a expressão.
Então, voltando ao dividir x compartilhar, vejo no Aurélio:
Compartilhar – ter parte em, participar de, partilhar.
Dividir – separar, tomar direção diferente, estabelecer divisões, pôr em discórdia, limitar, discordar.
E por aí vai.
Fico eu me perguntando o porquê da palavra ter tomado esse rumo de maneira tão constante. E aí, vem o Face redimindo a palavra “compartilhar”. Naquela época, logo no início, eu pensei, Agora sim, todo mundo vai refletir e retificar essa coisa de ficar dividindo emoções… Que nada… continua a mesma história.
Pesquisando um pouco mais, volto ao Aurélio e vejo lá que “partilhar é dividir em partes”. E “partilhar” está como uma das possibilidades para compartilhar.
Taí! Taí a confusão. Mas, continuo, será que as pessoas leem e não refletem sobre o que estão lendo e sobre o que estão dizendo?
Diante disso, vou me arvorar em defensora da palavra, e peço que usem compartilhar no seu sentido exato, no sentido do Face, porque compartilhando estamos aumentando, alastrando, ampliando e nunca dividindo.
Veio-me agora a lembrança de uma brincadeira que fazia com meus filhos, e faço ainda com meus netos: “O que é o que é, que quanto mais compartilhamos, mais aumenta o que já temos?”
A resposta, para mim, é “Amor e Conhecimento”. E é isto que quero sempre compartilhar com vocês. Nas minhas crônicas, quero compartilhar alegria, preocupações, prazeres, mas nunca dividi-los, porque cada um tem a sua parte neste grande latifúndio que é a Vida.
Não concordo com a visão de Aldous Huxley, que disse “Posso compartilhar as dores das pessoas, mas não os seus prazeres. Existe algo curiosamente aborrecedor na felicidade alheia”. O que é isso, Huxley! Que visão mais estreitinha e egoísta…
Pois eu, humildemente, quero compartilhar o que as pessoas quiserem compartilhar comigo. Só quem já viu o sorriso grande num ser amado sabe o que é compartilhar alegria, só quem teve um ombro amigo sabe o valor que ele tem.
Eu tive e continuo tendo tudo isso, talvez uma boa razão para devolver empatia e solidariedade, e esta é a época ideal.
Bom Natal a todos. Paz, Saúde e Alegrias. Muitas.