A Vontade foi dar Meia Volta
Nada a ver esse presente, não combina com ela.
Nossa, agora tá muito caro… hum… aquele é barato mas é horrível, Ih, esse é coisa de museu…
Ah… agora parece que vai. Presente bonito, funcional, moderno e nem tão barato mas também não é um absurdo. Vou levar.
Não, não estou exagerando, passei três horas de loja em loja procurando um presente que pudesse agradar à pessoa. E estava chovendo, tá? Claro que ia me atrasar para a festa, mas valeu!
Enfim, três horas depois chego à casa, tomo um banho, capricho no visual, visto uma roupa legal e vou aguardar o Uber na porta do prédio.
CHEGOU, tudo bem. Tudo bem? Mal o motorista dá a partida, sinto meus braços vazios… O presente! O PRESENTE.
– Moço, volta por favor, esqueci uma coisa, subo e desço em três minutos.
Realmente, entro em casa, pego o presente em cima da cama e saio.
Mal fecho a porta, quem aparece me olhando com aquele olhar faminto e o seu rugido feroz: o cão do 902, e o seu dono molenga, que não tem o menor domínio do animal, é carregado feito folha seca, e ainda me arranja uma corrente que estica, e assim perde mais o controle sobre o bicho.
Bom, para poupar nosso tempo, sei que você é pessoa muito ocupada, vou logo aos finalmentes.
Abri a porta da lixeira e me escondi lá dentro, não vi outra opção. Depois de uns quarenta minutos, um dos animais resolveu obedecer ao seu humano e entrou no 902. Nem preciso dizer que o Uber já era, eu sequer tive condição de lhe enviar mensagem com aquele cão selvagem rosnando e arranhando a porta da lixeira.
Entrei em casa, tinha que dar um retoque no cabelo e na maqui…
Outro taxi, e lá fui eu, presente nas mãos e algumas horas de atraso.
Ah, que alegria… a pessoa abriu a porta, ela mesmo, a aniversariante. Eu, felizinha da vida, estiquei meus braços e entreguei-lhe o presente. Adivinha o que ouvi?
– Ora, não precisava…
Como assim? Só eu e você sabemos o que foi comprar aquele presente, o que foi chegar àquela festa e ainda ouvir: – Ora, não precisava?
Foi punk, e a vontade foi dar meia volta.