Paradoxo

Quando fui à China fiquei muito impressionada com o tamanho das cidades. Quer dizer, não com o tamanho da área, mas com a densidade populacional.

Cidades com 21 milhões de habitantes, como Pequim, ou com 24 milhões como Shangai.

Na viagem que fiz percorri boa parte do território chinês e, embora o país seja hoje uma das potências mais poderosas do mundo, devo confessar que alguns pontos me chamaram a atenção.

Vou explicar.

Pego como exemplo a cidade de Campos dos Goytacazes, o maior município do Estado do Rio de Janeiro. Campos tem 4.026,70 Km2 e, segundo o IBGE, estima-se a população em 480.648 habitantes – 119 habitantes por Km2.

Enquanto isso, Pequim, capital da China, tem uma área de 16.801,25 Km2 e uma população estimada em 21.450.000 habitantes – 1.277 habitantes por Km2.

Shangai, o centro econômico da China, tem uma área de 6.340,50 Km2 e população estimada em 26.317.104 habitantes – 4.151 habitantes por Km2.

Comparando o IDH dessas cidades, vemos que praticamente não existem diferenças. Mas não entendo como podem conseguir índices altos de IDH depois do que vi, anos atrás. Talvez seja exagero, mas a princípio, vivem esses chineses quase amontoados, e certamente promovendo um ambiente favorável a epidemias das mais diversas espécies.

Isso foi o que pensei na época, quando pude percorrer diversas cidades do interior, sempre perguntando sobre a população e sempre recebendo respostas surpreendentes. Não lembro de, em momento algum, ter recebido como resposta cidade com população menor que um milhão de pessoas.

Fiz um cruzeiro pelo Yang Tsé e é de causar espanto o que se vê de pobreza no país de maior potencial econômico e produtivo do mundo. Um país que tem mais de 140 cidades com população maior que 1 milhão de habitantes…

Imaginem só que mercado incomensurável o mercado interno chinês, e a demanda imensa de produtos e serviços.

Wuhan, a cidade onde estão dizendo que o novo vírus Corona apareceu, tem grande importância econômica, é fundamental ponto de conexão da rede de transporte ferroviário, o que faz com que seja uma cidade estratégica para a infraestrutura ferroviária de alta velocidade.

Por estar no curso do Yang Tsé, também tem porto de grande movimento, ligando a região a Shangai.

A cidade fica numa região quente, que é conhecida por “panela da China”.

Considerando todos estes pontos e lembrando que o vírus apareceu para celebrar o Ano Novo Chinês, época de maior circulação na China, quando grandes massas se locomovem para a celebração tão importante para eles, podemos ver o tamanho do problema.

Pois é…, o povo que entre 214 e 204 a.C. construiu a Muralha de 6.259 Km2 de comprimento com uma altura média de 6 metros, vai agora, no ano da Graça de 2020, em pleno Terceiro Milênio, ter que fazer das tripas coração para conseguir eliminar esse pequeno ser circulante que ameaça não só seu povo, mas a enorme quantidade de pessoas que de alguma forma tiveram contato com o vírus.

4 Comments

  • Eurídice disse:

    Querida ! Amo ler seus artigos. Um grande beijo!

  • Rodrigo Lucas disse:

    Olhar atento e sensibilidade extemporânea

  • Daisy disse:

    >> Foi uma viagem fantástica e inesquecível. Eu estava junto. Regina Vimercati

    >> É de arrepiar. Ivonete Coutinho

    >> Chocada com seu texto e horrorizada com este vídeo. Ana Lúcia Cardoso

    >> Pois é com 2 bilhões pra se alimentar…. fica difícil. Neuza Maguerón

    >> Impressionante 😱. Maria Elisa Makino

    >>

  • Ligia Soares Skrebsky disse:

    Uma crônica da hora recomendo compartilhei elucidativa esclarecedora em estilo coloquial, acolhedora e prazerosa pra que dizer mais nota mil

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